Mário Russo
Após a gigantesca manifestação de descontentamento dos professores a ministra da Educação reiterou a sua disposição em manter a avaliação como está. As premissas do raciocínio da ministra são: (i) a avaliação melhora a qualidade do ensino e (ii) a avaliação é necessária. Ambas são verdadeiras e os professores também concordam com elas. O problema é que a primeira não é suficiente, porque o que está em causa é (iii) será esta avaliação adequada?
Obviamente que não é adequada. É demasiada burocrática, desajustada à categoria profissional e inconsequente. Com efeito, a burocracia é demais evidente, impondo uma perda de tempo inútil a docentes avaliados e avaliadores. É desajustada porque não pensada para professores, mas para pedreiros, carpinteiros, mecânicos, vendedores, sem desprimor das classes. Não leva em conta os contextos sociais, os equipamentos que os professores têm ao seu dispor, a qualidade da escola, a qualidade da tutela, entre outros.
É inconsequente porque não produz melhoria da qualidade do ensino, nem melhora a performance dos professores e nem serve honestamente para a progressão justa na carreira. Mas tem mais, é contra os professores e isso, em lugar nenhum do mundo é bom.
Os professores não se furtam à avaliação, mas não desejam esta avaliação que não é digna de poder catalogar e contribuir para a progressão na carreira, porque distorce a realidade e contribui para a depressão na classe, ante a injustiça do processo.
A ministra até pode continuar com esta posição de força, que não é a dos argumentos, porque faz o que a nomenklatura do governo já veio dizer através do ajudante do Engº Sócrates. Salazar e Franco também não cederiam. Portanto não estarão sós neste tipo de decisões.
De facto, os governos não podem ceder a todas as reivindicações, nem a todos os protestos. Mas tem de ter a sensibilidade política para perceber o sentimento que vai na rua. A convicção de que a crise atemoriza os portugueses está a dar alguma força ao governo, porque a sociedade civil é fraca e até o poder económico ainda há pouco tempo tão arrogante, se curvou de cócoras diante do governo a pedir meças. No entanto, este movimento é demasiado grande e com força suficiente, bastando querer, para paralisar o país.
É um erro estratégico do governo, porque o mais sensato seria parar para pensar e agir serenamente e não pela força. Deveria solicitar a 3 instituições do ensino superior com experiência nesta matéria para constituírem comissões (verdadeiramente independentes) que avaliassem o que já foi feito neste domínio e produzissem um documento com os resultados e as respectivas recomendações.
Não é demonstração de fraqueza, antes pelo contrário, é demonstração de clarividência e de bom senso. Nem todas as ideias implementadas têm necessariamente de ser boas à primeira. A ideia original é boa e os professores concordam, mas tem de ser justa, adequada à classe, equilibrada e envolver não apenas os docentes, mas a escola, o contexto social e a tutela. O que o país pede é bom senso, apenas. Chega de autismo e de arrogância.