25/10/2008

Dezassete Palmeiras




Da praia,
dezessete palmeiras até minha casa.
Dezessete gigantes
a guardar passos e tropeções.
Na primeira esquina,
uma lanchonete, americana.
Do lado outro da rua,
um rolls-royce negro
estacionado em uniforme espera
de fumaça continental.
Quarenta e cinco passos adiante,
sapatos sem pés em vitrine
e frascos de remédios em prateleiras,
geometricamente posicionados
entre a marquise
e o buraco do suicida.
Depois do sinal, verde, é claro,
mais cento e cinco passos
e alguns sacolejos dos dedos
ao longo de grades enferrujadas.
Parada obrigatória na cerca de ficus.
Alguns assovios e depois...
fuga dos lacerdinhas.
Enfim, os últimos passos.
Dois bancos de mármore
num jardim art deco.
186 arfadas
mais nove degraus de um rio grande
que descia em tapete vermelho
para desaguar em elevador de madeira
com botões de marfim,
grade dourada e um poço escuro.



Márcia Frazão
poetisa e escritora brasileira