19/10/2008

DEBATE EM PALAVRAS EM LISBOA COM M M CARRILHO

O Clube dos Pensadores desceu à capital

O debate realizado pelo Clube dos Pensadores em Lisboa com a participação especial de Manuel Maria Carrilho (MMC) foi um sucesso, num sábado à noite de futebol e não só.

O tema dissertado abordou a forma de fazer política no século XXI, com que partidos e com que pessoas. MMC , como sempre, revelou a sua faceta académica de estudioso destes temas. Foi claro no diagnóstico dos males que enformam o nosso sistema político actual e lúcido nas propostas de mudança necessária à revitalização da democracia participativa.

Falou sobre o papel dos partidos e sobretudo na necessidade de serem refundados, por dentro, identificando a importância que os movimentos cívicos e os independentes podem ter nessa mudança, sobretudo se a qualidade desses movimentos e dos quadros que os representam tiverem muita qualidade, pois contribuiriam para que o mérito regressasse aos partidos.

Há necessidade de criar valores por que todos se batam, resgatando a dignidade da política, tão maltratada nos dias de hoje, não apenas em Portugal, como no mundo. MMC estranhou que os partidos não tenham gabinetes de estudos, como aconteceu ao tempo dos Estados Gerais do PS, em que havia pessoas a estudar dossiers de governação, de tal sorte que ao serem chamados a governar, rapidamente entravam em acção. Hoje há um vazio e muito amadorismo neste campo.

Marcelo Pinho, outro dos convidados, salientou as preocupações que sente por práticas políticas pouco transparentes e uma grande irresponsabilidade a vários níveis.

Joaquim Jorge traçou um contundente retrato da actualidade política, mostrou a desilusão em que se converteu a forma de fazer política com partidos sequestrados da liberdade. Por políticos de fraca qualidade e destituídos de princípios. Dizem uma coisa e fazem o seu contrário. Foi, em alguns momentos, felino e mordaz, ao acertar em todos os pontos em que se move o actual sistema político.

Com efeito, a sociedade sente que a irresponsabilidade campeia, não apenas na política, mas no próprio funcionamento do sistema económico, que acaba de mostrar o seu falhanço, mergulhando o mundo na incerteza e no desânimo. O Deus Mercado aterrou sem pára-quedas e sem aviso. Depois da queda do muro de Berlim, foi o muro da vergonha financeira que se destroçou pelas bombas da ganância, da roubalheira e da irresponsabilidade.
Houve a resignação do poder político sobre o capital, ou nas palavras de MMC, o poder político claudicou perante o poder económico. Mostrou-se impotente e, por isso, a onda de protesto é grande.
Urge construir uma nova esquerda, porque, contrariamente ao propalado “fim das ideologias”, Carrilho contrapõe mesmo a importância desta refundação com base em valores que continuam a ser válidos nos nossos dias, reforçando a cidadania em que emerge a reivindicação do controlo do político sobre o financeiro, e não o contrário.

Sobre o papel da escola, MMC pensa que o triângulo de virtudes da escola tem de ser exaltado: (i) requalificar os equipamentos, (ii) prestigiar os professores e (iii) cultura do mérito.
De facto, hoje a escola não cumpre com os papéis que está obrigada a desempenhar, porque as crianças e jovens começam a ser “formados” noutros palcos, como a TV, onde passam muitas horas, mais que o desejável. Os pais, em muitos casos, demitem-se do seu papel de educadores, e a sociedade, é pouco interventiva e madura para se responsabilizar mais pela educação dos nossos jovens.

MMC instado a comentar o seu próprio papel no seio do PS, depois de fazer um brilhante diagnóstico e propor uma terapia, como se resignar no interior do seu partido, ou discordar da corrente vigente, sem “partir a louça”? Considerou normal o confronto de ideias no interior do partido, porque acredita que a refundação dos partidos será por dentro. JJ discordou deste pensamento, porque os políticos não vão deixar de querer o poder, especialmente sendo exercido por medíocres. Vão abafar as oposições, castrando-as na acção e tudo farão para manter “tudo na mesma”.

De realçar uma proposta de constituição de filiais do Clube dos Pensadores em várias cidades do país. Claro que a cidadania pode levar que pessoas possam criar grupos de tertúlia similares ao Clube dos Pensadores e será bom para o país. Com efeito, nós, cidadãos, não podemos dizer mal, apenas, sem nos indignarmos com o pântano pejado de medíocres e sem fazermos a nossa parte: participar efectivamente do processo político, fazendo opinião, como o CLUBE tem vindo a fazer.

Uma grande jornada com sala cheia em Lisboa e um convívio salutar e de se repetir. Foi bom contactar pessoalmente com participantes activos do Blog que vivem em Lisboa. Que continuem a fazer cidadania.
Parabéns ao Joaquim Jorge, que concretizou esta aventura fora de portas.

Mário Russo