17/09/2008

Pânico no mercado financeiro


Mário Russo


Depois da falência do 4º maior banco de investimentos dos EUA, vem agora a notícia da falência eminente do maior grupo segurador do mundo, a AIG. Sem dúvida que vão abalar a confiança nos mercados financeiros e com a falta de confiança, a previsível retracção da economia em muitos países, para além da perda real de milhões de pessoas que investiram nessas instituições.

O que emerge deste desastre é a pergunta óbvia que ainda não vi formulada: de quem é a culpa? Sim, porque todas as empresas cotadas estão sujeitas a auditorias. Qual a seriedade destes auditores? E o papel dos reguladores para que serve? E os bancos centrais estão a dormir? O que fizeram todo este tempo?

Para mim tem sido evidente há muito tempo que o modelo vigente faliu. Já o exprimi várias vezes e cada vez mais constato ser evidente a falência deste capitalismo selvagem em que vivemos e que até os partidos ditos socialistas embarcaram, em especial na última década e meia.

A promiscuidade das contabilidades baseadas em ciências ocultas, fazem com que os administradores das empresas fiquem multimilionários, enquanto na realidade as empresas apresentam prejuízos [veja-se um exemplo caseiro das Águas de Portugal com prejuízo de 75 milhões e os seus administradores distribuem 2.3 milhões de “lucros”]. Veja-se o BCP e como encheram os “bolsos” o seu presidente e administradores, lesando investidores. Também muitos dos jornalistas do sector económico estão “feitos” com grupos económicos, lançando notícias falsas para enganar distraídos nos negócios em bolsa.

Bolsas de tudo e mais alguma coisa que transformaram a economia num grande casino, sem regulamentação nenhuma. Impera a lei da selva. A ganância daqueles que queriam ganhar com os pobres, através de operações do sub-prime, estão a colher os frutos, arrastando tudo e todos, porque a lógica desta economia está montada com este vício.

Também a pouca lógica dos banqueiros centrais não é explicada, ou é mesmo de loucos. A taxa euribor acaba de subir. Para quê? Para que milhares de famílias que tinham hipótese de honrar os seus compromissos deixem de o fazer, tal como aconteceu com os pobres da América que deixaram de pagar as suas prestações quando o FED resolver aumentar os juros mais de 100% (passou de 2% para 5% ao ano, de aumento em aumento de 0.25 pontos). Quem ganhou com esta ganância?
Faz-me rir a justificativa de combate à inflação, num mundo ocidental deprimido.

Outro aspecto das notícias bombásticas que levam a este pânico (certeiro para a Europa e EUA) é a contaminação que provoca em países que não vivem nenhuma crise económica , antes pelo contrário, estão em pujante força. Isto acontece com a China, Índia, Rússia, Angola e outros “tigres asiáticos”. Mais de metade da economia actual cresce e nós teimosamente queremos colocar tudo no mesmo caldeirão, arrastando para a crise psicológica todo o mundo, o que só é possível porque mantemos a nossa visão colonialista da economia.

Então a culpa morrerá, mais uma vez, solteira. Os auditores, os gurus com dons de pitonisa, os “especialistas” que recomendam, os bancos centrais, as entidades reguladoras, enfim, ninguém tem culpa de nada. Quem se “ferra” é sempre o povão, porque os “gangsters” já recolheram o seu há muito tempo. “Eles comem tudo, eles comem tudo… e não deixam nada.”