27/08/2008

O que pretende a Rússia?


Mário Russo


O novo presidente russo está a dar o ar da sua graça ao redesenhar à força o mapa da Europa.

Contra tudo e contra todos não se coibiu de ordenar o bombardeio de uma província de outro país que já estivera sob jugo soviético (ou ser orientado por Putin a fazer jogo sujo), com milhares de mortes e centenas de milhar de refugiados. Agora declara a independência destas províncias separatistas.

Como conseguiu? Por limpeza étnica. Forçado milhares de russos a deslocarem-se para estas províncias e ali viverem. Incentivaram-nos a revoltarem-se porque são, em alguns casos, regiões de maioria russa. Simples e não é de agora.

O que quer a Rússia? Sem dúvida que pretende voltar à “guerra fria” e reconstruir o seu bloco, perante uma Europa que revela a sua dimensão militar pífia nestas ocasiões. Ou seja, sob o ponto de vista militar a Europa é um anão que se agacha em situações mais fortes. Não é de agora e eles (russos) sabem-no e por isso brincam com este fogo.

A Rússia esteve no silêncio dos últimos anos a reconstruir o seu exército e o poder de fogo. Agora que tem algum, põe as garras de fora, porque sabe que tem um leão ferido do outro lado do oceano, envolto numa crise económico-financeira e de prestígio devido ao fracasso no Iraque, e do seu lado um vizinho, a Europa, que é um “cachorrinho” que ladra mas não morde.

A questão energética mais uma vez a servir de mote para a guerra. A estratégia de passagem dos gasodutos por certos países é da maior importância, para que a Europa não fique refém, como tem sido até aqui (basta fechar a torneira). E para a Rússia, porque não quer que a Europa fique salvaguardada com fornecimento energético.

O “escudo de defesa” anti-míssil europeu é uma ameaça à Rússia, segundo Medvedev, o que é estranho, porque é de defesa, que quer dizer que só actua se for atacado. Se não for, não actua. O Presidente da Rússia está a sugerir que eles querem mesmo atacar o ocidente, quando quiserem e lhes interessar, como fez agora à Geórgia.

Mais um ingrediente para os especuladores forçarem o recrudescer do preço do petróleo, canalizando fábulas de dinheiro para os bolsos dos magnatas do ouro negro (da Rússia e das Arábias). Tudo porque nos momentos da verdade não temos na UE uma política comum com peso suficiente para impor a vontade de países democráticos. E ainda há quem seja contra uma “constituição” mínima na UE, que mais assim facilita os planos hegemónicos destes lideres totalitários da Rússia.