08/07/2008

REFLEXÃO


João Limas



Meu caro Joaquim Jorge,



O debate de ontem, quer pela plateia de intervenientes quer pela forma como a sessão foi conduzida voltou a afirmar o Clube dos Pensadores como um fórum único de discussão, de análise sobre algumas temáticas que (infelizmente) marcam a actualidade no nosso país.
A apresentação de um projecto político, tal como referiu Garcia Pereira na sua última intervenção, não pode (julgo que ninguém esperava isso) ser apresentado em tão pouco tempo, se o fosse (qualquer que fosse o subscritor) pecava, na minha opinião por falta de consistência ou então seria (bem ao estilo do actual primeiro-ministro) imbuído de uma grande dose de demagogia.

Ao longo dos dias que antecederam a realização do debate de ontem (o 25.º!!! – é obra) nunca me passou pela cabeça que um dos convidados fosse primar pela ausência. Dizem-me, pessoas próximas, que aquele que um dia chegou a pensar ser primeiro-ministro não é virgem em situações como a de ontem. Bom se recuarmos um pouco no tempo todos nos lembramos que Luís Filipe Menezes enquanto candidato à liderança do PSD prometeu aos social-democratas formar uma alternativa sólida e capaz de se afirmar perante um governo socialista liderado por José Sócrates.


No entanto, quando confrontado com algumas vozes contra (tal como antes ele próprio tinha feito a Marques Mendes) optou pelo caminho mais fácil: não enfrentou as divergências internas, demonstrou que não sabia lidar com a crítica e abandonou o barco deixando a meio um caminho que tinha prometido trilhar. Será que Luís Filipe Menezes teve “medo” ou “receio” de ontem em pleno coração da sua urbe ser confrontado com algumas incoerências demonstradas enquanto protagonista nos mais variados palcos do espectro político?

Mas será que um presidente de câmara (é certo e justo que se diga, com obra feita) não consegue aceitar, independentemente dos restantes cargos políticos que desempenhou, apresentar, discutir e ouvir ideias sobre um projecto político? Será que enquanto presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia o Dr. Luís Filipe Menezes não tem um projecto político?
Apesar da ausência de Luís Filipe Menezes o debate que encerrou o 5.º ciclo de debates do Clube dos Pensadores correu bem, de forma cordial e acima de tudo dentro de um grande respeito pelas diferenças de pensamento existentes nas pessoas que usaram da palavra.
Como diz a velha máxima do povo “só faz falta quem cá está”, e quem não esteve, depois de ter confirmado a presença, depois de ter visto o anúncio (em praticamente todos os meios de comunicação social do pais) ficou muito mal na fotografia. Mas as atitudes ficam para quem as praticam.

Ainda relativamente à ausência do edil de Vila Nova de Gaia permitam-me mais algumas linhas. Analisando e lendo atentamente a justificação dada não consigo entender as palavras simpáticas que o Joaquim Jorge lhe dirigiu depois de ler a missiva. Diz Joaquim Jorge que Luís Filipe Menezes é amigo do clube. Até posso estar de acordo que seja amigo pessoal deste ou daquele membro do clube, agora do clube enquanto “instituição” Luís Filipe Menezes demonstrou uma grande falta de respeito. Diz o edil de Vila Nova de Gaia que não fazia sentido marcar presença no debate para falar de “Projecto Político” porque já não exercia as funções de líder do PSD. Pois bem, se não exerce é porque não teve arte, engenho e humildade para segurar o cargo que (democraticamente) a maioria dos social-democratas lhe deu, por outro lado, o Clube dos Pensadores, de acordo com o que tenho conhecimento, não se assume como palco ou rampa de lançamento para ninguém. Se ainda desempenhasse o cargo lá estaria como já não desempenha não vai? Não é, na minha opinião, com “amigos” destes que o clube pode evoluir e continuar a afirmar-se como um fórum livre de discussão e de análise às questões que preocupam, diariamente, os portugueses.

Mudando de direcção. Narciso Miranda, militante (assumido) do Partido Socialista vai ao que tudo indica encabeçar uma candidatura independente à Câmara Municipal de Matosinhos. Ontem, no Clube dos Pensadores o “Sr. de Matosinhos” disparou contra a forma como os partidos se apresentam. Mas será que as críticas de Narciso Miranda surgem ao aparelho porque esse mesmo aparelho, que ele próprio ajudou a criar e contribuiu para o seu desenvolvimento, lhe virou as costas? A forma como actualmente os partidos se apresentam não é a penas de há três ou quatro anos a esta parte assim. Já o era quando Narciso Miranda desempenhava funções no seio do PS. E na altura? Quantas vezes ouvimos Narciso Miranda dizer que os partidos estavam mal e que era necessário modernizar os partidos?

Na minha óptica uma das formas de os partidos se modernizarem é responsabilizar os seus dirigentes pelas escolhas pessoais e políticas eu fazem quer para os órgão autárquicos quer para os cargos governativos em Lisboa. Tão maus são aqueles que desempenham mal as suas tarefas como aqueles que os nomeiam ou lhes dão a oportunidade e palco. Como disse um dos presentes na noite de ontem, os políticos são escolhidos para os cargos não pelo valor que têm mas sim pelos votos que conseguem arrastar. Com esta postura continuaremos a ter, durante os próximos anos, o mesmo discurso.
Para terminar, gostaria de reiterar os parabéns ao Joaquim Jorge pelo empenho que tem vindo a demonstrar na organização dos vários debates que o Clube dos Pensadores tem desenvolvido.


director do jornal Maré Viva ( Espinho )