18/05/2008

Crise financeira ou visão colonialista da economia?


Mário Russo



Nos últimos tempos só se fala de crise económica. Petróleo, alimentos, mas sobretudo o problema do crédito bancário do sub-prime nos EUA contaminou o discurso nos Estados Unidos e na velha Europa, como se tratasse de uma crise económica à escala global. Mas será?
O preço do petróleo ajuda a alimentar o discurso da crise, o que é outra falácia, porque não nos preparamos adequadamente para a mudança que cedo ou tarde viria. Se o preço do barril de petróleo sofresse os ajustamentos de preço que os restantes produtos sofreram, desde a última grande crise do petróleo, e seria à volta dos 100 US$ que estaria hoje, sem drama.

Os povos pobres passaram a ter salário e com ele a entrar no mercado de consumo. Por isso a dita crise de alimentos, agravada por uma política de produção de biodiesel a qualquer custo, baseada em profissões de fé de ambientalistas bem intencionados (que o inferno está cheio), não chega para justificar crise nenhuma, mas uma grande oportunidade de produzir mais, porque há mercado.
Estamos a falar da crise mundial ou dos grupos financeiros que sempre dominaram a economia e os discursos?
Desde o tratado de Breton Woods que a economia e os seus padrões, eram ditados pelos EUA. Tudo por ali passava, incluindo a moeda internacional de trocas comerciais. Mas o mundo está a mudar e os gurus da praça ainda não perceberam.

A globalização, em minha opinião ainda nada regulada, teve o condão de cumprir um dos seus objectivos, que era o de potenciar que o desenvolvimento económico (e não só) se espalhasse pelo mundo, e que países pobres pudessem chegar ao dito mercado económico. A verdade é que a economia mundial, outrora centrada nos EUA e na velha Europa com uma passagem pelo Japão, se deslocou definitivamente para outras paragens.

De facto, hoje é a China, Índia, Rússia, Brasil, Angola e os “tigres asiáticos” que dominam mais de metade da economia mundial e crescem acima de 6% ao ano. Também países da Europa crescem a esta taxa (Irlanda e os novos aderentes). De que crise estamos sempre a falar? Aliás, é com este preço do barril que mais de 50% da economia mundial cresce a olhos vistos.
As perdas dos bancos com o irresponsável “sub-prime”, tem afectado as bolsas de valores que se têm comportado, em especial na Europa e EUA, de forma histérica, num sobe e desce de casino que nada tem a ver com a economia real. Aliás, como é que se justifica que uma empresa valha hoje em capitalização bolsista 500 milhões e amanhã, sem fazer nada, valha 250, senão a histeria?

As bolsas europeias e dos EUA estão num zig-zag fora do comum e têm motivado o constante discurso da crise mundial, quando é uma crise do modelo de desenvolvimento dos EUA e da Europa que está em causa e as perdas dos grupos financeiros agiotas mundiais.
Não alimentemos o discurso da crise só porque os astronómicos e imorais lucros dos banqueiros está a reduzir-se por sua única e irresponsável culpa e ganância. A crise é de valores e do modelo.
O que se passa é que não sabemos lidar com a globalização e, pior, continuamos a ter uma visão colonialista da economia, como se ela fosse unicamente a europeia e dos EUA.

Portugal está em crise sim, mas é interna e conjuntural, por falta de competitividade e de competência governativa que o discurso de crise mundial é música celestial justificativa, que interessa alimentar.



membro do clube e frequente no bogue, engenheiro e professor universitário