03/05/2008

Ambiente e globalização ou o mito da energia limpa?



Mário Russo



Chegam-nos notícias preocupantes da crise dos cereais e o agravamento dos preços de bens alimentares ao nível global. Chegou a globalização da fome. De quem é a culpa?

Algumas explicações são endereçadas aos benefícios financeiros que os biocombustíveis constituem, embalados pelas políticas ambientalistas que desejavam livrar o planeta das emissões gasosas poluentes. Medidas políticas avulsas, sem avaliar as consequências, começam a dar à luz os primeiros resultados, tirando alimento da boca da população para encher os depósitos dos carros.
É seguramente o mito da energia limpa a esfumar-se. Desflorestamos áreas gigantescas de florestas para plantar soja, milho ou oleaginosas para produção de combustível, que é mais rentável. Benefícios ambientais comprovados? Não. Só blá-blá ambientalista com direito a protagonismo em horário nobre nas televisões (míopes) que estão a levar-nos para a mais grave crise ambiental da história da humanidade.

Um erro de política gravíssimo consequência das pressões de ONG ambientais mais violentas, como o Greenpeace, que agora deveriam responder em tribunal pelas consequências dos seus actos. Está na hora de separar o trigo do joio e concluir-se que ser uma ONG do ambiente nada tem a ver com a sua real defesa (a maior parte das vezes é para defesa dos salários principescos dos seus dirigentes). As pressões contra a construção de barragens, porque se acham donos do ambiente, é outro dos erros grosseiros vividos em Portugal. Pagaremos no futuro as opções levianas tomadas (já estamos a pagar).

E os alimentos? Para além dos biocombustíveis com a sua quota-parte, também países como o Brasil, a India e a China, com a sua economia em crescimento, lançaram no mercado milhões de seres humanos que estavam afastados do mercado consumidor. Passaram a comer mais de uma vez por dia e a varrer das prateleiras esses alimentos. Ainda bem para eles.
Mas haverá razão para que os preços sejam tão elevados? Será mesmo assim? Ou há algo que a globalização nos está a esconder?

Sou pela última. O modelo instalado é o culpado. Como se justifica que hoje em dia tudo seja adquirido em bolsas. São as de valores, onde jogadores de casino fazem fortunas especulando com empresas que produzem. São bolsas de cereais, do petróleo, de metais, de gado, de futuros, são as commodities, etc. Tudo se joga, até a vida de milhões de seres humanos.
O capital voa de país para país ou de continente para continente num ápice, sem controlo. Os especuladores, como George Soros, que tem a distinta lata de aparecer como benemérito em cimeiras, a carpir lágrimas de crocodilo em favor dos deserdados deste mundo, que fazem disparar o preço a seu bel prazer. Nem economistas, nem governantes sabem lidar com a globalização porque não lhe impuseram regras claras.

Como é possível que uma mercadoria (petróleo, por exemplo) sofra um aumento de preço só porque há indícios de que um fulano na Nigéria vai atacar um pipeline? Os especuladores viram-se para os alimentos e açambarcam-nos, fazendo escassear nas ditas bolsas (casinos). E, mais estranho, é que governos entregam o futuro dos preços de bens essenciais nas mãos destes aventureiros, subjugando-se e claudicando a esta roleta russa vergonhosa.

Os especuladores que fazem os preços de tudo, vivem das comissões de compra e de venda. Do que é que estamos à espera?

O modelo de desenvolvimento existente está a cavar cada vez mais o fosso entre ricos e pobres. Hoje milhares de miseráveis são carne para canhão, adoptados pelo narcotráfico ou recrutados pelo terrorismo internacional. Um dia os pobres e deserdados, aos milhões, não tendo nada a perder, vão descobrir que têm mais poder do que julgam e vai ser uma nova Bastilha.
membro do clube , engenheiro e frequente no blogue