Foi o contraponto sem entrar em choque (…) comedido , colocou várias reticências e muitos “mas”.
JOAQUIM JORGE
O primeiro ano de mandato de Cavaco e Silva pautou-se por uma atitude low profile, talvez pelo trauma que lhe causou a sua relação com Mário Soares, na altura Presidente da República, sentindo na pele essa obstacularização e interferência sistemática na sua acção como Primeiro – Ministro.
Porém, este segundo ano de mandato tem tido, uma actuação muito mais interventiva, vetou num mês (Agosto) quatro diplomas emblemáticos da política socialista: a lei orgânica da GNR; a lei do Estatuto do jornalista; lei que previa o levantamento do sigilo bancário em casos de reclamação do contribuinte e a da Responsabilidade Civil Extracontratual.
Recentemente vetou a lei dos vínculos, carreiras e remunerações na Administração Pública. Interveio na localização do novo aeroporto para Lisboa, mostrou desagrado pela lei sobre o aborto. Na educação apelou ao diálogo do Governo com os professores, insistindo que se deve prestigiar a sua figura. Na saúde alertou para a necessidade de as políticas (fecho dos blocos de parto, atendimento nocturno nos centros de saúde ou das urgências hospitalares), serem explicadas aos cidadãos e influenciou a não ratificação do Tratado Europeu (Lisboa) por via referendária
O Governo tem acolhido quase sempre os seus reparos, (a táctica é não abrir uma frente de conflito com o presidente, já tem tantos conflitos poderia dar a ideia de isolamento), daí o seu poder acrescido, sendo ainda mais exigente no seu discurso de ano novo, pedindo mais diálogo, menos injustiça social, que se evite a crispação existente na sociedade portuguesa, admitindo que os cidadãos não entendem as reformas da saúde, questionou os salários elevados de altos gestores públicos e pediu cuidado e critérios exigentes na utilização das verbas da E.U., que estão aí a chegar no novo QREN. Exigiu que haja mais emprego e melhores condições de vida.
Concluindo foi o contraponto ao Governo sem entrar em choque. José Sócrates, mega optimista, Cavaco Silva, comedido, colocou várias reticências e muitos “mas”. Traçou o retrato de um país em crise e foi o eco do que preocupa o país, defendendo os mais fracos económica e socialmente, adoptando, as críticas que se ouvem na “rua” insistentemente.
Coincidência ou não com estes reparos, já caíram dois Ministros e por este andar outros vão a caminho. Na Educação, com estas trapalhadas todas e falta de tacto no relacionamento com a classe docente, mais tarde ou mais cedo a Ministra terá guia de marcha, a pressão não é só dos sindicatos também começa a ser da opinião pública. Cavaco e Silva e Maria Cavaco que foram professores têm a noção exacta dos anseios e problemas, com que se debate a classe docente, desprestigiada aos olhos dos portugueses.
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