15/09/2007

A Verdade na Política?


Mário Russo

Concordo com a reflexão que o José Carvalho faz acerca do tema que nos levará ao Clube na próxima segunda-feira. Ana Gomes é a escolha de uma personalidade vibrante e apaixonada pelo que faz, sem medos nem grilhetas. Diz o que pensa e como tal é incómoda para o poder instituído. Teremos um debate fervilhante. Ana Gomes não é indiferente. É irreverente, e ainda bem que o é.
A verdade na política devia ser como na vida. Sei que poderá parecer utópico o que vou escrever, mas é o que penso. Os políticos que temos emanam e são da mesma massa de que é feito este povo. Criticar uns é ver a imagem reflectida num espelho. Os políticos são o que são, porque têm o povo que têm. Julgo que temos os políticos que merecemos, porque não somos exigentes nem cultos o suficiente para exigir que o exercício da política seja o mais sublime dos serviços que um cidadão eleito presta à Pátria. Só depois de demonstrar o seu valor na sociedade é que deveria aceitar abraçar esta nobre actividade.
Não pretendo dizer que tenham de se comportar à imagem de S. Francisco de Assis. Os políticos devem ser bem e justamente remunerados, para termos os melhores a governar-nos. Mas, só um povo com outra educação é que exigirá políticos que não se servem da política.

Infelizmente temos cerca de 70% dos nossos deputados sem nenhuma experiência profissional fora da política. Universidades e politécnicos outorgaram-lhes um diploma e a escola do Partido lhes fez o resto. Quase todos emergem das “canteras” dos partidos (há uma tese de mestrado sobre este estudo). Assim, é difícil haver maior qualidade na política do que a que temos. A saída passa por um povo educado, culto e politizado. Passa, por isso, pelo investimento na educação (o contrário do que o governo fez ao cortar mais de 8% nas verbas orçamentadas, ao arrepio da recomendação da avaliação internacional tão elogiada). No entanto, esse mesmo governo pretende seguir outras recomendações, como passar universidades e politécnicos a fundações privadas, acabar com professores na função pública, privatizar a educação, a saúde, etc. Verdade nas decisões políticas? Não creio.

Porque não há verdade na política? Só pode ser por incompetência e irrealismo na elaboração dos programas de governação, de modo que ao chegarem ao poder, constatam que a realidade é outra (é a real). Por isso, os seus autores dizem que ganhar eleições é mais importante que dizer a verdade. Sem dúvida que será, porque o povo é assim, como os políticos que temos. Quebrar este ciclo de pensamento vicioso só com outra educação.
Nestas condições, a iniciativa do Joaquim Jorge ao fundar e animar este CLUBE, constitui um acto de coragem de um visionário que tem da política o mesmo, ou similar, entendimento que eu tenho e José Carvalho manifestou. O CLUBE é um fórum crítico, politizado e livre, com a força da semente que rompe o solo para se transformar em árvore. Pelo seu papel cívico, justifica a participação de todos para que esta árvore tenha folhas perenes, independentemente dos invernos que possam aparecer.


engenheiro , professor IP de Viana , membro do clube e frequente do blogue