26/09/2007

DIREITOS HUMANOS!


Isabel Carmo


Fui tomar a minha “bica” a meio da manhã. Embora o tempo esteja ameno, o vento leve que faz oscilar as ramagens das árvores, fez com que não escolhesse uma mesa na esplanada, mas sim dentro do Café.

O Miratejo tem uma agradável e aprazível esplanada, de onde se mira o Tejo, correndo lentamente lá em baixo, com a ponte, como se fosse um colar. Mas no interior, muito embora tenha centros de atracção, distraí-me a ler o que os pacotes de açúcar dizem. Espanto! O que me calhou dizia, como a seguir transcrevo:

“Toda a pessoa tem o direito ao trabalho e a escolher livremente a sua profissão, a condições iguais e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego”.

Ainda agora, passadas que são algumas horas, penso que não li bem ou que estes direitos dizem respeito ao Homem, mas não àquele grupo a que pertenço.

Ora então toda a gente tem direito ao trabalho? Mas esse direito está a ser negado a milhares de pessoas, todos os dias… Psicólogos no desemprego. Professores no desemprego… bem, não vou acrescentar mais na lista, porque seria longa e estes, são dois estratos sociais, dos mais relevantes.

Escolher livremente a sua profissão?!!! Bem! Só podem estar a brincar. Eu não posso queixar-me. Trabalho como voluntária e como professora – completamente grátis – mas esse direito já me foi negado, pois nunca consegui encontrar a documentação que daria seguimento à minha carreira … (anomalias consequentes de períodos controversos, explicaram-me na altura) e como ficar quieta não era o meu “estilo”, trabalhei em N coisas até que consegui ir fazer o que mais gosto – ensinar. Os meus seniores são cinco estrelas.

Essa das condições iguais e satisfatórias de trabalho… posso dizer que é mentira? Mesmo não podendo, di-lo-ei. A maioria das Mulheres, com ocupação igual à dos elementos do sexo masculino, é remunerada inferiormente. São inferiores porque têm tarefas domésticas e filhos e se não assistirem à família e ao emprego, “que se arranjem”… Claro que, actualmente, já muitas pessoas optam por viver a sua vida, solitariamente… mas, e há sempre um mas, não é apenas nesta condição que se mostra que estes direitos são bem tortos… porquê uns têm direito a remunerações “altérrimas” mais algumas pensões de trabalhos por onde passaram…??? Será isso humano, quando, outros há, que embora tivessem tido trabalhos de responsabilidade ou de perigo para as suas vidas, não passam do que está tabelado…? (direitos humanos!)…

E mais, a protecção ao desemprego ou ao emprego? … tudo são balelas… Se é desempregado, logo se deduz que não trabalha porque não quer… a voz do povo é sempre como a do sino, ouve-se à distância… e se lhe é atribuído um trabalho, mesmo sendo padeiro, poderá passar a ser mecânico… e como é a tal escolha da profissão? Se calhar é por essa razão que temos pessoas a dar directrizes, em sectores de suma importância, que poderiam estar a ser engomadeiras ou jardineiros… será que o “flexidesajustamento” não será um bom termo?

Mas, e voltando aos professores contratados, que flexibilidade é essa que só promove a insegurança, sobretudo a emocional, para não falar nos que têm família constituída…

Ora depois disto, e de ter reflectido por cada palavra do tal parágrafo dos Direitos Humanos, pergunto - Quem consegue pensar de maneira diversa? (Apenas os que estão seguros nos seus “reais” postos de trabalho)…



poetisa , professora . membro do clube e frequente no blogue