25/02/2007

Educação, competitividade e a experiência do Império Romano?










Mário Russo

Para que o sistema educativo português atinja patamares de qualidade dignos de um país desenvolvido não precisará mais que 3 princípios simples: (i) Organização clara e simples, onde todos os actores sabem o seu papel; (ii) – Rigorosa, no método e na aplicação, com consequências para alunos, professores, famílias e Estado; (iii) Disciplina e treinamento, para fazer bem à primeira.
Encontramos estes 3 simples princípios no cerne dos potentados económicos da actualidade, tal como também no passado, de que se realça o Império Romano, um dos maiores e mais duráveis da história da Humanidade, que durante cerca de oito séculos, mantiveram uma invencível supremacia nas guerras de conquista e de defesa das sua fronteiras. Qual o segredo? O livro de Flávius Vegécio Renatus (sec. iv), escrito a mando do imperador Teodósio, «Tratado de Ciência Militar», editado pelas Edições Sílabo, Lisboa, 2006, se encontra uma síntese do conhecimento militar romano, que revela a importância creditada em Roma ao método educativo e à instrução. Entre as recomendações apontadas avulta a necessidade de recrutar em cada contingente de soldados alguns “letrados”, que soubessem escrever, contar e fazer cálculos. Outro aspecto acentuado como essencial para o funcionamento da organização militar romana era a cuidada formação das chefias directas, os célebres “centuriões”, cuja progressão se fazia sempre, passo a passo até conduzir ao posto mais elevado da carreira, o de “primeiro centurião”. Era com esta preparação cuidada que o sistema garantia a excelência de direcção de cada unidade e do seu conjunto. A carreira dos oficiais era procedente da política e, como tal, tinham um papel e instrução diferentes. Todo este sistema assentava numa definição muito rigorosa das diversas funções de cada cargo, o que permitia responsabilizar directamente, e sem equívocos, os seus titulares, fossem eles quem fossem. Se Vegécio considerava que, no combate, “era mais eficaz a instrução que a força”, e Roma foi o que foi, porque não pensarmos que só um povo instruído, no sentido de educado, é o princípio do sucesso? Para quê revoluções na educação, para gáudio do reformador, se o que precisamos é de estabilidade nas regras e nos programas, devolver a disciplina à sala de aula (ao professor) e de responsabilização de todos os actores para se construir uma sociedade educada e como tal, mais equilibrada, ética e, porventura, mais feliz? Mas atenção, não é possível em democracia esquecer ou mesmo marginalizar os professores neste processo.


professor universitário e membro do Clube