24/01/2007

Clube dos Pensadores realiza debate sobre o tema "Cultura - um desafio nacional, um trunfo global"


Nacional - Sociedade 2007-01-23 20:55


O Clube dos Pensadores realizou ontem, dia 22 de Janeiro, um debate dedicado ao tema 'Cultura – um desafio nacional, um trunfo global' que contou com a presença do antigo Ministro da Cultura, Manuel Maria Carilho, entre outros convidados especiais.
Tiago Silva

O Clube realizou o seu primeiro debate em Gaia – e o primeiro relativo ao terceiro ciclo de debates – no Hotel Holiday Inn, tendo-se verificado uma grande afluência de público, a rondar as cento e cinquenta pessoas.

O antigo Ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, defendeu que a cultura é um factor preponderante para a afirmação portuguesa ao nível interno e externo.

No primeiro debate do terceiro ciclo, organizado pelo Clube dos Pensadores, o ex-ministro afirmou que a cultura tem “um papel importante na governação”. Para Manuel Maria Carrilho, Portugal sofre um défice histórico a nível cultural que só poderá ser combatido através da requalificação dos recursos humanos, do território e por uma política integrada de apoio.

Segundo o ex-deputado da Câmara Municipal de Lisboa, a aposta na educação, formação e na ciência é a saída para uma maior sensibilização para a cultura e para uma maior qualificação dos portugueses.

Ainda de acordo com Manuel Maria Carrilho, Portugal enfrenta “três desafios” para aproveitar as potencialidades da cultura. O primeiro dos desafios passa pelo reconhecimento de políticas culturais, “o segundo tem a ver com a articulação dessas políticas, o incentivar à colaboração, criando redes entre as instituições, e por último, deve-se criar uma política de patrocínio de grandes eventos”.

Com isto, Portugal tem um trunfo global para a “sua afirmação além fronteiras”. Neste sentido, o ex-ministro da Cultura afirma que os investimentos que estão previstos no QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) para 2007-2013 para a educação, formação e requalificação são o primeiro passo para “uma visão global” nacional.

Mário Dorminsky, vereador da Cultura da Câmara Municipal de Gaia e criador do Fantasporto, preferiu abordar a cultura como uma indústria que pode potenciar a economia. Para que se possa falar “numa indústria cultural” que impulsiona o “turismo e os serviços”, os eventos culturais têm que “ter dimensão”. Para o autarca, a indústria cultural é “das mais rentáveis na Europa”.

Segundo Mário Dorminsky, os sucessivos governos “não pensaram no potencial de ligação entre os grandes eventos e a rentabilidade do turismo e serviços”. Cabe ao Estado “criar políticas de atracção” para atrair as pessoas e educar e formar.

O biólogo e fundador do Clube dos Pensadores, Joaquim Jorge, referiu que a promoção dos eventos culturais deve ser feita “para a altura em que as pessoas possam ir”. Numa sociedade em que se “discute e nunca se escreve”, o Estado deve “educar as pessoas a reclamar”.

Para o fundador do Clube, Portugal sofre de uma “cultura idiota”, em que a falta de “cultura cívica” leva à inveja e a falar-se “do que é notório e supérfluo”. Para que se possa inverter esta situação e para um “reequilíbrio no processo da nossa autodestruição”, Joaquim Jorge defende um maior investimento na “cultura técnico-científica”.

Nassalete Miranda, directora do jornal ‘O Primeiro de Janeiro’, comentou que existem poucas ofertas culturais de qualidade e que é necessário educar as pessoas. Ao nível da promoção cultural, um bom estudo do público-alvo e do meio, faz com que a população adira às ofertas culturais. Por sua vez, Elsa Lé, convidada da plateia e artista plástica, defendeu uma educação para a arte, logo a começar no ensino básico, com um maior apoio governamental aos artistas e às instituições de ensino.