09/03/2006

O país dos clubes


Alexandra Correia / VISÃO nº 679

PORTUGAL - Debate político
Fora dos partidos encontra-se gente com vontade de discutir este nosso Portugal. Mas não se ficam pela conversa de café

Se há clubes que aquecem as conversas dos portugueses, manipulam os humores e têm influência directa nos níveis de confiança (falamos dos futebolísticos), noutro tipo de clubes – como os de reflexão política – o País ainda está minguado. Timidamente, eles começam a aparecer, dinamizados por gente que não encontra em mais lugar nenhum a liberdade do debate descomprometido.

Sinal da vontade dos cidadãos em intervir na política nacional, o crescimento dos clubes políticos expõe também o calcanhar-de-aquiles dos partidos: o seu fechamento a quem procura mais do que a vida disciplinada do aparelho. Isso mesmo sucedeu a Joaquim Jorge, 48 anos, biólogo, fundador do Clube dos Pensadores. «Comecei a pensar nisto quando me vi desencantado com a política partidária. Dentro dos partidos, em vez de se falar de política, discutem-se as vaidades pessoais e as ambições», afirma este militante do PS.

Embora no PS surjam, volta e meia, clubes políticos (desde o do Chiado à Margem Esquerda), alguns dos quais reflectem tendências dentro do partido, Joaquim Jorge garante que o seu Clube dos Pensadores nada tem a ver com o partido. Até porque na sua comissão permanente se encontra gente de várias ideologias. «Gosto do debate pelo debate», justifica, acrescentando: «Mas acho que as boas ideias devem ser aplicadas.»


A sociedade mexe-se
É justamente a pensar no contributo que podem dar à sociedade que os promotores do Clube Loja de Ideias gravam todas as suas iniciativas.
A ideia é transcrever para o papel o produto das suas reflexões e entregá-lo aos partidos. A iniciativa Call For Papers, por exemplo, em que o clube convida os interessados a apresentar propostas sobre a reforma do sistema eleitoral, tem como objectivo a publicação dessas mesmas propostas.

Com sede em Lisboa, este clube foi formado por dois amigos: José Reis Santos, 31 anos, investigador em Ciências Sociais; e Diogo Moreira, 24 anos, investigador em Ciências Políticas. «Precisamos de uma maior actividade da sociedade civil, mas essa actividade não se substitui aos partidos», avisa Diogo Moreira. Para José Reis Santos, o clube nasce da «necessidade de desenvolver formas de participação cívica a que nem os partidos nem as academias conseguem dar resposta».

Para o jornalista Paulo Pinto Mascarenhas, 40 anos, as Noites à Direita, que organiza, surgiram da constatação de que «há pouco debate entre os partidos». Além disso, a ideia «é provar que existe esquerda e direita e fazer com que debatam entre si». Depois de um debate, em finais do ano passado, que juntou os economistas António Borges e Daniel Bessa, preparam-se mais dois, no final deste mês, em Lisboa e no Porto. Aos poucos vão surgindo espaços onde se pode dar largas ao prazer de trocar argumentos.