20/06/2019

Onde há trigo também há joio



António Fernandes 
Há uma seara loira da cor da espiga do trigo que baloiça na planta pronta a ser ceifada por ceifeira que na monda sempre soube que para a monda ser bem feita é preciso separar o trigo do joio porque é o joio que tem de mondar para que o trigo cresça floresça dê fruto e amadureça e dele se faça farinha. E da farinha devidamente amassada e cozida resulte o pão do nosso alimento.
A seara, para gente da cidade, não é mais do que um campo onde o trigo se acomoda encostado um ao outro e assim vai crescendo. Para mondadeira experiente nem tudo é trigo e, nem tudo é joio. A seu tempo o joio terá de ser mondado de forma a que o trigo desfrute do espaço necessário para crescer e a espiga desponte para que nela os grãos amadurem.
Mondadeira experiente sabe que o tempo necessita de tempo para completar ciclos a que as condições climáticas não são de todo estranhas. Antes pelo contrário. Exercem influência primordial em todo o processo da transformação da semente em planta e consequente processo de maturação ou amadurecimento.
E que o joio tem um outro ciclo de vida bem mais curto e destino diferenciado consoante as práticas correntes na exploração agrícola. Tanto pode ser alimento como estrume ou pura e simplesmente lixo.
Talvez por isso a mondadeira experiente não confunde a seara e lhe retira as ervas daninhas. Não confunde a vinha e lhe retira os rebentos tardios. Não confunde o tomatal e capa os tomates. Não confunde aquilo que é a semente com aquilo que é necessário fazer para que tenha uma planta robusta e sã.
E por isso separa o trigo do joio tal e qual separa a educação da formação.
Nem sequer perde tempo para supostamente lhe ensinarem aquilo que a vida já lhe ensinou em que não confundir as plantas é elementar.
Aprendeu simplesmente. Sem que tenha sentido qualquer necessidade da capacitação em voga para áreas que não a sua e que mais dia menos dia também acontecerá.
Até lá centra a sua especialização contínua na escola da vida e sente que tem muito mais a ensinar do que a aprender sobre a ruralidade profunda que não é a das hortas urbanas ou sequer das hortas berma de estrada ou de rotunda.
Ensinar as pessoas que confundem formação com informação um pouco à semelhança do esperto que confunde a rama de uma planta com planta diferente é coisa que a mondadeira sabe fazer.
Sabe do tempo e dos ciclos de vida das plantas e de todos os processos necessário para as cuidar até à ceifa final.
Sabe por isso tudo o que é essencial o que lhe permite não perder tempo com o acessório.
Talvez por isso tenha ocupação garantida e consciência dos seus direitos deveres e obrigações sociais.

Coisas da vida:
     da mondadeira ceifeira e de todos os novos sapientes das Ciências Sociais!