António Fernandes |
A abstenção não é, de todo, motivada pelo desleixo,
comodismo ou protesto.
O cidadão comum não é formatado para lidar de perto com os
mecanismos do poder. Nem sequer para a cidadania. E muito menos para as
questões ambientais.
O cidadão comum é o resultado das políticas gerais
transitadas ao longo de gerações e por isso atua em conformidade.
A educação e o conhecimento legado e o aplicado desde a era das cavernas ao presente tem sido
sempre no domínio da sobrevivência da espécie.
Assim sendo o cidadão comum é formatado para interagir numa
sociedade competitiva e individualista.
Esta circunstância baliza o comportamento das sociedades em
torno daquilo que o indivíduo tem para si como sendo as suas prioridades ou
preferências.
É de acordo com este formato que a abstenção deve ter
leitura consentânea e apurar a montante as causas e a jusante as consequências.
Os atuais agentes políticos que emergem de uma sociedade
onde predomina o figurino descrito não conseguem transmutar-se e por isso
refletem o comportamento comum dessa mesma sociedade.
No entanto as conjunturas sempre foram dinâmicas e tiveram
por de trás dessas dinâmicas pessoas inconformadas que apuraram o seu
pensamento em exercícios utópicos em que parte dessa utopia se transformou em
um desafio estrutural de mudança da organização social de forma a que assente
em bases de propulsão com trajeto claro onde a liberdade a equidade e o
tratamento se ajuste.
Um ajuste que não aparece nunca por arte ou magia mas que
faz doutrina nas organizações com vocação de poder progressistas e provoca
reação organizada conservadora e retrógrada.
Como é óbvio há diversas fases e estádios de organização
social em resultado do conhecimento existente e que por isso se movem de
acordo.