Mário Russo |
A eleição de Jair Bolsonaro a Presidente do Brasil foi a
concretização de uma improbabilidade de um candidato sem partido, sem dinheiro
para bancar uma campanha e com uma imprensa genericamente hostil. Tinha todos
os ingredientes para o fracasso, mas foi um sucesso. Um verdadeiro case study, porém,
a génese foi a consequência de uma longa passagem pelo poder do PT, que era a
esperança dos brasileiros quando Lula da Silva foi eleito a primeira vez há
mais de 16 anos atrás. Depois seguiu-se a traição ao povo Brasileiro com um
refinado programa de poder enlameado com a corrupção ao mais alto grau de sobranceria
escancarada, tal a soberba de um partido que julgava ter domesticado o povo
Brasileiro, quando apenas tinha hipnotizado os seus fanáticos e cegos militantes.
Diante de tamanhos desmandos o povo Brasileiro fartou-se e
não mais aguentava o PT. Nestas circunstâncias, Bolsonaro foi o candidato que
surgiu fora do sistema com propostas concretas e bramindo armas contra a
corrupção que aglutinou o povo para derrubar o nefasto e funesto legado do PT, e
ganhou, independentemente da guerra suja que lhe moveram e dos rótulos mais
inacreditáveis que se possa conceber que tentaram colar-lhe na pele. Os feitiços
exagerados voltaram-se contra o feiticeiro que os lançava.
Eis a eleição de Jair Bolsonaro. A sua força foi tal que vários
candidatos se elegeram na cola do candidato, entre outros, os seus 3 filhos,
que não têm nem maturidade, nem experiência, nem trabalhos públicos que
justifiquem o lugar que conseguiram no voto, apenas possível pelo reboque do
pai. Aliás, se nas legendas do partido do candidato se apresentasse o Rato
Mickey com o nome de Mickey Bolsonaro também teria sido eleito.
Isto mostra o peso eleitoral de Bolsonaro e, por outro lado,
a ojeriza que o PT e Lula causaram na maioria do povo Brasileiro. Algo parecido
com a rejeição figadal a Passos Coelho em Portugal, que cimentou a mais que
improvável aliança do BE e PCP, partidos de folclore e contestação, ao PS de
António Costa, para governar o país.
Bolsonaro, cumpriu o que disse em campanha e escolheu
ministros pelas competências e experiências demonstradas, como Sérgio Moro na
Justiça e Segurança, Paulo Guedes na Economia, General Hamilton Mourão a
vice-Presidente, General Heleno da segurança Institucional, entre outros homens
da farda nomeados em pastas importantes e ajustadas aos perfis dos titulares.
Pela primeira vez deixou de haver a negociata de ministérios com os partidos
num toma-lá-dá-cá altamente lesivo para o erário público e eficácia governativa.
Porém, o início de mandato foi atribulado, primeiro com a
saúde do Presidente que teve de se submeter a uma delicadíssima operação para a
extração da bolsa de colostomia que usava após a tentativa de assassinato
durante a campanha. Depois alguns episódios e equívocos com a demissão de um
ministro do seu partido, sobretudo pela ilegítima interferência de um dos
filhos do Presidente, alcunhado com o codinome de Pit Bull, que como já se vê,
não é por ser refinado e educado.
O Brasil está a braços com um défice colossal com a Previdência
Social, que delapida completamente o erário público e impede o país de investir
em infraestruturas (apenas 16% das estradas que atravessam o país são
asfaltadas), na saúde, educação e segurança o país entrou em falência. Nos
últimos anos o PT levou ao sucateamento completo de serviços públicos essenciais
e não investiu nas infraestruturas necessárias para dar dignidade e qualidade
de vida ao povo brasileiro e capacidade de atrair investimento para o país.
Tudo por conta da roubalheira desenfreada orquestrada politicamente em nome de
um projeto de poder, que mancha toda a classe política, da esquerda à direita. O
que tem vindo a lume, por ação de valorosos procuradores e juízes da nova
safra, é superior a tudo que se pode imaginar, desde a época colonial aos
nossos dias. A drenagem de dinheiros públicos era a regra. A exceção era a
aplicação de algum dinheiro em benefício público. O combate feroz a estes
crimes é imperioso, e Sérgio Moro tem a oportunidade de pôr em prática toda a
sua experiência e competência de forma estruturante e com inteligência e meios
de combate eficazes. Na economia, Bolsonaro tem um peso pesado, para tentar
desarmar a funesta ordem económica implantada pelo PT e acabar com a
bandalheira e a subsidio dependência e corrupção endémica em todos os
ministérios.
A grande reforma é a da Previdência Social, sem a qual é
impossível o país sair do atoleiro, porque tudo se perde pelo ralo, como
enxugar gelo. De facto, as fraudes são gigantescas e o regabofe é imenso
(pessoas a reformarem-se aos 40 anos; os regimes de privilégios de exceção para
poderosas castas de políticos, magistrados e agentes de segurança, sem limites
e até obsceno). Mexer em tantos privilégios requer estratégia e muita coesão
governamental. Qualquer deslize é lenha para a fogueira.
Mas Bolsonaro tem mais perigos e inimigos pela frente, sendo
que o pior de todos eles chama-se Bolsonaro. Primeiro porque ainda não deixou
de ser o “cidadão” a reivindicar algum benefício, como se viu com a proposta da
reforma da Previdência em que admite baixar a idade de reforma das mulheres de
65 para 62 anos e, mais recentemente dar a ideia que pode aceitar 60 anos,
contra a opinião da equipa económica. Isto tudo, muito antes de entrar na dura
negociação com os abutres e velhas raposas das duas câmaras legislativas. Bolsonaro
fala no patriotismo dos parlamentares, mas está iludido, porque os
parlamentares não são propriamente as gentes do povo que o elegeram. São
raposas com agendas próprias, para boa maior dos quais a pátria é uma farra.
Bolsonaro também continua a ser o motorista que apregoa a desregulamentação,
como remover as lombadas eletrónicas nas estradas brasileiras que limitam
eficazmente a velocidade (argumento que alguns camionistas dizem ser a
indústria da multa e que Jair encampou), num dos piores países do mundo em
desastres de viação por descumprimento de regras básicas e abusos dos
motoristas. Uma reivindicação de alguns camionistas a ser levada à prática é irresponsável,
porque está provado que as lombadas têm evitado milhares de mortes todos os
anos. É, mais uma vez o “sindicalista” e não o Presidente a tomar decisões.
Espero que o bom senso retorne e não se concretize esta medida irresponsável.
Aliás, deve dizer—se, que é uma das suas qualidades, voltar atrás e reconhecer
quando não está certo, sem qualquer pudor. Assim se espera.
Também o Presidente deve evitar usar as redes sociais ao
mínimo e, sobretudo, não responder a qualquer prevaricador, porque Bolsonaro
não é Trump e nem será bom imitá-lo. Nem tudo que é bom para os EUA, é bom para
o Brasil, pelo contrário. Bolsonaro devia saber disso, principalmente agora que
está a visitar os EUA e já há uma amostra bem elucidativa na assinatura de um
dispositivo de abolição de vistos de americanos no Brasil, mas que não há
reciprocidade. Trump, e o “amigo”
americano, tem tanta consideração por Jair e os brasileiros, que exige
visto de entrada para os brasileiros nos EUA, tal como exige a hondurenhos. É
um mau sinal do Presidente, que nada engrandece o povo brasileiro.
Outro espinho no caminho tem sido a ilegítima interferência
dos filhos do Presidente em assuntos de Estado. Os jovens têm evidenciado falta
de bom senso e até decência. As interferências têm desagradado inclusive a uma
franja imensa do seu eleitorado.
O núcleo duro de comando da Presidência, designadamente o
vice-Presidente General Hamilton Mourão, uma voz sensata, já anunciou que o
Presidente ia acabar por controlar os filhos. Assim deve ser, porque os
desafios de um Governo com enormes problemas estruturais a resolver e sem uma
base parlamentar visível, não pode dar “bandeiras” como as que os filhos do
presidente têm dado, porque ainda há uma franja de opositores muito bem
organizada e que não se ensaia nada em partir para a violência, como sindicatos
da CUT, o MST e associações de estudantes alinhadas, braços armados do PT.
Bolsonaro tem tudo para tirar o Brasil do atoleiro, mas tem
de deixar de ser o seu pior inimigo, e recentrar os seus esforços no foco
principal que são as difíceis reformas estruturantes que o país necessita. Não
pode dispersar-se em fait-divers típicos
de botequim, pois pode caminhar para mais uma desilusão dos esperançosos
Brasileiros que o elegeram para fugir a sete pés do PT. Ainda há milhões que
querem que tudo vá pró brejo, por isso, os Brasileiros que amam a sua pátria
pretendem que o seu Presidente se recentre nos grandes temas que o levaram ao
pódio e os leve de vencida. O início de mandato é sempre de aprendizado, mas todos
esperam que as baldas tenham terminado, porque os caminhos difíceis e
espinhosos aí estão para ser trilhados e vencidos em prol deste país-continente.
Os Brasileiros não merecem ter mais uma desilusão como foram as de Collor de
Melo e Lula da Silva. Bolsonaro deve ser o Presidente dos brasileiros e
honrá-los, sem muletas, porque não precisa.