31/12/2018

Momentos




 
Paulo Andrade 
O rico momento de um pobre espírito 


“ Um espírito mesquinho é como um microscópio : 
Aumenta as coisas pequenas, mas impede de ver as grandes ” 
Philip Dormer Stanhope (1694-1773), político e escritor inglês 

Há cerca de 2 dias , na rede social, reparei numa polémica. 
Esta polémica nasceu devido ao facto de alguém ter publicado a  fotografia de uma funcionária de um hospital de Lisboa, a dormir na receção, durante uma madrugada. 
Um dos comentários,  da pessoa autora da foto, referia que era devido a “isto” ( a funcionária administrativa a dormir), que o “pais está como está”. 
Após ler isto, fiquei confuso.... 
Sempre pensei, e assumi, que o país “está como está” devido, por exemplo, aos 17 biliões de euros gastos com os escândalos(roubos) bancários,  com os milhões desperdiçados com as tão famosas PPP, com a rasteira indecente e vígara que muitos deputados insulares nos passaram quando exigiram ser( e foram) ressarcidos pela assembleia de gastos que não fizeram, com a conivência do presidente da Assembleia. 
Ou.... os abonos de deslocação recebidos por uma boa maioria de deputados  que VIVEM em Lisboa, que totalizam muitas centenas de euros por mês e que, naturalmente, engordam bastante a fatia salarial de cada deputado, emagrecendo os fundos públicos .  
O povo contribuinte, esse animal pagante, paga e não refila como é costume. 
Sempre pensei que o “país está como está”, devido também a atitudes baixas, como o arranjinho que os partidos TODOS fizeram em relação à questão do IVA,  e a outros impostos o que implica, automaticamente, a isenção deste imposto e de outro que todos  também  pagamos...o IMI.  São centenas de milhar de euros que os partidos, os “cospe-leis” do costume, não pagam. E tendo em conta que alguns partidos, nomeadamente o PCP (não é questão de cor, é questão de facto), detém um razoável património imobiliário, imagine-se quantos euros deixam de entrar nos cofres públicos . 
Sempre pensei que o “país está como está”, devido à contínua fuga de milhões de euros dos bolsos plebeus para sustentar  cerca de 450 Fundações , quanto a mim de utilidade  pública (muito) duvidosa , que sorvem cerca de 5 biliões de euros anuais,  ou aos créditos fiscais exigidos pela banca ao estado  no valor de milhões de euros. 


Sempre pensei que “o país está como está”, devido aos milhões que custam sustentar anualmente mais de 300 deputados ( continentais e regionais), devido aos milhões que custam manter mais de 1200 institutos públicos também , quanto a mim, uma boa parte  de utilidade pública (muito) duvidosa,  e devido aos milhões que custam manter mais de 4500 gestores públicos com as costumeiras mordomias e autorizações de gastos . 
Sempre pensei que “o país está como está” devido aos cerca de 7 milhões anuais gastos com as subvenções vitalícias, algumas de 6 mil euros mensais, ou a “pobre” reforma de cerca de 11 mil euros de um banqueiro que foi diretamente responsável por um dos maiores escândalos bancários de que há memória.  
Sempre pensei que Portugal “está como está”, porque a câmara da capital se dispõe a pagar 3 milhões de euros, dinheiro do contribuinte, para construir uma mesquita. Isto num país onde é professada a religião católica, e num estado que se diz “laico”e que, por isto mesmo, não pode permitir a influência ou interação de instituições públicas com nenhuma religião . 
Portugal “está como está”, sempre pensei , devido também ao facto de cerca de 4.5 milhões de portugueses receberem algum tipo de pensão ou subsídio, devido ao facto de se brincar ás “escondidas” com processos judiciais e de, a meio do jogo ,se substituirem juízes incómodos. 
Sempre pensei que o “país está como está” devido aos exemplos de autênticas fraudes políticas que aqui deixo, e a muitos outros igualmente depravados , irresponsáveis , vergonhosos e, claro está, impunes .  
Mas  afinal estava enganado  !  
Uma mente iluminada prestou-me um grande serviço ao elucidar-me sobre o quão enganado estava ! 
Afinal ... 
O país está na miséria em que está porque uma funcionária de uma receção hospitalar, cedendo à madrugada, ao cansaço e ao sono, adormeceu na cadeira.