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Mário Russo |
O Brasil viveu uma crise com a falta de abastecimento em
todas as atividades do país. Faltou de tudo, numa cadeia vertiginosa. Faltou
comida nos estabelecimentos comerciais, remédios nos hospitais, combustíveis
para transportes, rações para o gado, comida para as aves, etc. O prejuízo é
bilionário. Morreram centenas de milhões de aves e porcos por falta de comida.
Estragaram-se milhões de toneladas de produtos alimentares perecíveis. O leite
produzido nas fazendas foi derramado por falta de transporte para escoar.
Fábricas pararam completamente. As escolas também. O Brasil quase parou de
funcionar.
Já se sabe que as opções dos vários governos desde a crise
do petróleo de 1970 se previa dificuldades no setor dos transportes e era
preciso diversificar. O Brasil não o fez. Teimou continuar com o transporte
rodoviário, num país continental, em que apenas 13% das rodovias é pavimentada.
Não há ferrovia e o transporte marítimo e fluvial é incipiente e restringe-se
muito no norte, Pará e Amazonas, devido à rede hidrográfica extensa e, porque
não há condições de transporte rodoviário, caso contrário, até estas
autoestradas de água seriam relegadas para segundo lugar.
Os custos com o transporte rodoviário são 10 vezes
superiores aos da ferrovia e 13 vezes o marítimo, não deixando margem para
dúvidas não só financeiras e económicas, como ambientais. Mas nada foi feito.
As rodovias são de má qualidade. Apenas o Estado de São Paulo tem uma malha
rodoviária com autoestradas dignas desse nome e um pouco também em Minas Gerais,
Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. O resto, infelizmente, é quase um
deserto.
A segurança do transporte nas rodovias é precária. Os
camionistas são heróis nas estradas, sujeitos às armadilhas de más estradas e
de bandidos que os assaltam, como os bandidos faziam no velho oeste americano
às carruagens. No Rio de janeiro, nas barbas da polícia.
No meio deste caos, o governo federal mostrou toda a sua
fraqueza. Equívocos atrás de equívocos. Primeiro por reagir tarde ao terrorismo
perpetrado pelos patrões dos transportes, que conseguiram iludir a opinião
pública, de que o movimento era popular e em benefício dos motoristas,
acompanhado pelas redes sociais acríticas e com rejeição ao governo Temer,
embalaram o movimento como se fosse uma redenção para o Brasil.
Depois, quando se sentou para negociar com grevistas,
evidenciando o mais crasso erro de um governo: prostrando-se diante de
grevistas, que por mais justas que sejam as suas posições, jamais se permite
sentar para negociar sem o levantamento da greve. Porque se os grevistas não
souberem que têm do outro lado um governo forte, fazem uma farra de
reivindicações sem fim. Mais grave ainda, o governo ofereceu de bandeja tudo o
que foi reivindicado pelos patrões dos transportes, com as consequências que se
conhecem.
Por outro lado, qual a justiça e racionalidade de medidas
que transfere o pagamento da conta de todos os Brasileiros para os bolsos dos
patrões dos transportes? Pois foi o que o governo acabou por fazer, achando ter
feito um grande negócio, ao eliminar impostos sobre o diesel e a folha de
pagamento das empresas, compensando o rombo bilionário com o agravamento de
outros impostos, que incidem sobre todos os brasileiros, cortando na saúde,
educação e infraestruturas. Pura irracionalidade. É que não há almoços grátis.
Ficou evidente que o governo não conseguiu acabar com a
greve e saiu a perder em toda a linha, juntamente com o Brasil como um todo.
Baderneiros conotados com partidos políticos radicais e políticos populistas, infiltraram-se
no movimento e coagiram violentamente os camionistas que queriam trabalhar.
Patrões coagiram os trabalhadores para que estes não trabalhassem, mesmo após
os ditos acordos terem sido rubricados pelas lideranças, para aumentar o caos
no país.
A pergunta que perpassa é a seguinte: o Brasil não esteve
preparado para este evento, mostrando uma evidente fragilidade de governantes e
de empresas, sem um plano B. Como é que o Brasil está preparado para eventos
extraordinários que as alterações climáticas “já mostraram”, poder vir a
acontecer, sem aviso prévio de data, paralisando abastecimentos, destruindo
infraestruturas e bens produzidos: podendo o país ficar períodos sem
comunicações, sem combustíveis, sem eletricidade, sem água potável, sem comida.
Como está o Brasil preparado para estes eventos? Muito mal.
Não há planos de segurança nem de emergência. Esta greve/lock-out, deveria,
pelo menos, depois de tantos prejuízos, servir de exemplo para uma reflexão
séria dos governantes de todas as esferas, as empresas e população, e não
esperar que os acontecimentos se precipitem, antecipando soluções.
Sem falar nas consequências que o terrorismo pode introduzir
neste conturbado mundo de incertezas. Pois bem, há que preparar Planos de
Segurança da Água (PSA), para todas as cidades e centros de produção e de
abastecimento do país, sobretudo as áreas mais vulneráveis e já identificadas.
Planos de emergência nos transportes, comunicações, telecomunicações, energia, alimentação
e saúde, entre outros. Reservas estratégicas para enfrentar as consequências
dos eventos e treinamento adequado de dirigentes e das populações.
Este aviso serve para muitos países e governantes. O que aí
vem, só não se sabe quando, não é para amadores.