Joaquim Murale* |
A nu ficou igualmente a posição da União Europeia, hipócrita e
contraditória, como já sabíamos. Enquanto finge desconhecer a legitimidade
histórica que assiste
ao povo catalão, a União Europeia reconheceu a independência do Kosovo quando
tal interessava à estratégia imperialista.
A nu ficou também a posição
servil dos dirigentes portugueses face a Madrid. Desde o roubo de Olivença,
Portugal nunca mais deixou de se curvar perante Espanha.
O processo da independência da Catalunha enferma, a
meu ver, de algumas ingenuidades, nomeadamente não assumir que a libertação de
um povo é, sempre, um acto de insurreição contra o ocupante, acreditar na
boa-fé de Madrid e de Bruxelas e confiar nas “virtudes” do sistema democrático,
e revela igualmente algumas fragilidades, a maior delas é a falta de uma
liderança forte, mobilizadora e agregadora, capaz de tomar e de impor medidas
resolutas, de entre as quais a expulsão imediata de todos os órgãos representativos
do poder de Espanha e as que retirem a Madrid o controlo das forças militares e
policiais ocupantes do seu território para que, em primeiro lugar, não possam
ser usadas como forças agressoras do seu povo e, em último caso, possam ser
usadas na defesa da independência proclamada. Todos estamos certos, por aquilo
que a História nos ensina, particularmente a nós, portugueses, e pelas cargas
policiais a que o mundo inteiro recentemente assistiu no dia da realização do
referendo, que Madrid não hesitará em usar todos os tipos de força para
recuperar a “sua” legalidade, isto é, manter o seu domínio sobre a Catalunha.
Certamente que o Povo Catalão, que já viu desfeitas,
por diversas vezes, as suas pretensões à independência, lutará afincadamente
para que, desta vez, seja a valer! Na sua luta, eu estou solidário com o Povo Catalão!
* escritor, poeta e dramaturgo