05/04/2017

O peso moral e cívico da palavra




António Fernandes 
A palavra não é um simples som a que as cordas vocais dão tonalidade e a expressão facial mais a expressão corporal acrescentam a veracidade necessária sempre dependente de como ela é aceite por quem na ouve.
A palavra resulta do acervo de que a memória é possuidora e também da capacidade de cada um em no expressar de forma convicta.
O seu crédito é o crédito popularmente atribuído independentemente da veracidade que comporte, ou não.
A palavra é um processo de aprendizagem que se torna no meio de comunicação que cada um de nós dispõe para se expressar junto do semelhante.
Simplesmente, a palavra, para além do som articulado e monitorizado pelas cordas vocais e pelo centro nervoso, comporta aquilo que se sabe, se julga saber, se deduz e se pensa entre outras condicionantes de que sobressai a honra
Nesse sentido, o peso das palavras tem uma amplitude incalculável quando proferida e vinculo acentuado quando escrita. E quando comporta e reporta a honra pessoal e de compromisso.
Dai que quem assume responsabilidade no uso da palavra em seu nome e em representação delegada deva ter em atenção essa condição e que por isso a deva usar com senso e moderação.
Por isso “palavra dada, é palavra honrada!”
Uma máxima lapidar de campanha eleitoral usada por António Costa, atual Primeiro Ministro, que a foi buscar aos ditados populares, e que veio colocar a nu, o peso das palavras na ordem do dia daquilo que deve ser o principio ético e moral no comportamento do cidadão.
Palavras que, quando são a assunção de compromisso, os atos devem corresponder em conformidade porque só assim se consegue que os demais cidadãos acreditem e possam confiar nas palavras que lhes são dirigidas como garante de conduta individual em um determinado fim a que o coletivo reconhece valia, ou não, consoante a forma de expressão em que suas próprias palavras dão forma ao pensamento sobre outrem.
Infelizmente são poucos aqueles que no exercício de cargo publico ou mesmo de cargo dirigente em partido político seguem essa máxima: “PALAVRA DADA, É PALAVRA HONRADA!”
Todos percebemos que por de trás da palavra dada ao cidadão eleitor há um outro conjunto de palavras dadas a parceiros e a adversários de jogos de poder com compromissos à mistura na esfera orgânica interna e externa de que resulta o valor relativo da palavra em contexto especifico.
O que na prática quer dizer que o uso da palavra ultrapassa os parâmetros que lhe deviam balizar o peso da responsabilidade para se tornar demasiado vulgar, corriqueira até, consoante o interesse julgado pelo seu próprio emissor.
Neste contexto, a palavra escrita é, indubitavelmente, a única forma, por ser individual, que assume forma de compromisso de honra sobre tudo aquilo que é dito reproduzido em palavras escritas.
O escritor. O político. O sacerdote. E outros, que se servem da escrita para transmitir aos seus semelhantes aquilo que pensam como soluções para as diversas calamidades e assimetrias sociais assim como a forma a dar à educação mas também no foro cientifico com enfoque para a evolução histórica das sociedades e das transformações que produziram no Planeta objetivando a melhoria das condições de vida dos povos no imediato e de outros que questionam o que faltou fazer em defesa das cautelas necessárias ao equilíbrio ambiental, são a essência da história dos Homens em que a palavra assume numa primeira forma símbolos, escrita pictórica ou hieroglífica, a que posteriormente acrescentou o som, tendo tido um desempenho fundamental na comunicação e na transmissão do saber existente.
Um saber que os Homens de hoje já não sabem transmitir porque deixaram que os canais privilegiados para esse fim fossem engolidos pelo seu próprio saber.
Um saber que passaram a alojar em meios múltiplos aonde não existem valores de referencia como o são a sensibilidade, o discernir, a razão, cunho indelével da condição Humana.
E assim, a palavra livre que dá voz ao pensamento, já não é livre como o vento, porque deixou de ser munida de senso.