07/01/2017

A cultura, da cábula em suporte de papel.



António Fernandes 
A cultura, para os que lhe não conhecem o curso nem a identidade, necessita, não de uma, mas de um incontável número de cábulas. Desde os bafientos arquivos bibliotecários das mais diversas instituições aos sofisticados arquivos cibernéticos alojados em "nuvens" que mais não são do que um aglomerado de armários cheios de circuitos interligados por uma panóplia de componentes eletrónicos em que os nano já pontuam e o algoritmo faz matriz de comunicação, alinhados num qualquer edifício bem assente no solo o que contraria o conceito identificativo daquilo que é tido, "culturalmente", pela sociedade no seu todo, como sendo uma nuvem. E onde se processam a separação, compilação e arquivo de toda a informação que circula para tratamentos vários: de arquivo: de comunicação; de consulta; etc.
A que se juntam os designados por "arquivos vivos". A memória viva da Humanidade que guarda e transmite de geração em geração o seu saber e os seu usos e costumes do tempo. Este processo metódico e meticuloso vai-se "arrumando" nas "gavetas" do cérebro ao longo das etapas do crescimento em que consiste uma vida, dando origem ao Ser. Ser esse, que mediante os condicionalismos circunstanciais do meio, se ajusta e defende consoante os motivos sempre a jusante porque a montante acumulou saber acrescido para o enfrentar no dia-a-dia que se lhe segue e, quiçá, projetar o futuro.
Há quem separe a cultura da arte. Há quem as junte e vulgarize em cultura.
Ora, a cultura, tem uma matriz específica.
A arte, não tem uma matriz específica.
A cultura é o conhecimento.
A arte, é a argúcia; a acutilância; a iniciativa; entre outros predicados; em criar. 
E, criar, tendo a montante o suporte do conhecimento - a cultura - é algo sem definição objetiva porque o seu mundo é o mundo da subjetividade. 
Criar, é construir o novo; o diferente; o audaz; 
É preencher o vazio com recheio por inventar!
Talvez por isso, as diferenças entre um académico convencional e um artista de qualquer vaga, sejam abissais.
Com vantagem para o artista. Porque o artista reflete sempre o seu tempo e a sua época.
O académico reflete exclusivamente o conhecimento acumulado. Num tempo em que a capacidade cognitiva - função da inteligência ao adquirir um conhecimento - tem limites de ordem organizativa e de assimilação dada a diversidade das matérias. Daí o surgir das especializações.
Posto isto, dou comigo a exercitar o raciocínio sobre como direcionar a cultura e a arte em um só pelouro, numa qualquer Câmara Municipal.
Obviamente de que não é um exercício de fácil execução quando os meios são escassos e o desinteresse como opção política é uma evidência.
E que muito mais difícil se torna, se os meios físicos disponíveis estiverem comprometidos com agendas próprias em que a programação de identidade local for preterida em favor de gostos elitistas ou de esquizofrenia enlaivados.
Mas...
Se houvesse conhecimento e capacidade cultural e arte para contornar os obstáculos, a cultura e a arte locais teriam a merecida notoriedade e o reconhecimento devido, e seriam tratadas com respeito. 
A sua valia não seria secundarizada. 
A sua identidade não seria, de modo sub-reptício, a mistura do trato de forma soez, ao sabor das "ondas", sem lhes respeitar as diferenças e assumir que são a identidade da Região!
O suporte de papel acaba assim, por ser o enumerar de ocorrências em local, que acaba sempre num caixote de lixo qualquer depois de ter sido cabula de uso, e nada mais.