Mário Russo |
A eleição de António Guterres para Secretário-Geral da ONU é
uma vitória pessoal que honra Portugal e levanta a tradicional baixa estima dos
portugueses. Depois da vitória de Portugal no Euro 2016 de futebol e diversas
conquistas internacionais desportivas, podemos dizer que este foi o ano de
Portugal. Era português o líder da UE por 10 anos. Agora é outro português de
exceção que vai estar no topo do mundo. A eleição de Guterres teve todo um
conjunto de peripécias dignas de um filme de Orson Wells.
O descrédito que a classe política tem vindo a sofrer em
todo o mundo levou a ONU a adotar pela primeira vez um modelo de escolha do
candidato a ser sufragado com transparência e que premiasse o mérito e
competência para o cargo, deixando de lado o sistema de rotação e de cotas, justificável
em certas circunstâncias e por tempo
determinado, mas que erradamente se generalizou e que é próprio da incapacidade
e da mediocridade.
António Guterres em sucessivas e duras sabáticas, venceu
todas de modo claro. Os apaniguados das cotas entraram em pânico, pois tinham
como adquirido que bastava ser uma mulher e do Leste, independentemente de ser
a mais competente ou não, para ser a mais votada nas sabáticas, pelo que
correram a decapitar a candidata indicada pelo Governa da Bulgária que não
convencia ninguém e tiraram uma coelha da cartola, Kristina Giorgieva, da Comissão
europeia, com o beneplácito de Juncker e da Sra. Merkel da Alemanha, numa
manobra de pura trapaça política, a que se junta um tal de Mário David, um
paraquedista que diz estar a trabalhar na candidatura da sua amiga Búlgara há 2
anos, segundo disse num programa da SIC, que os jornalistas hipnotizados
engoliram sem questionar. Como podia estar a preparar uma candidatura de alguém
que não seria candidata, já que o país tinha indicado outra senhora? Será que
Mário David tem bola de cristal e sabia que haveria um golpe palaciano?
Como os políticos de modo geral estão mais sujos do que pau
de galinheiro, eu também começava a ficar desiludido com esta fraude perpetrada
pela cúpula da UE. Porém, para bem da sanidade política, os 5 países com
direito a veto no Conselho de Segurança, reforçaram unanimemente a posição que Guterres
já detinha e o resto já se sabe, a eleição de António Guterres, merecida e
trabalhada ao longo de uma vida exemplar. A ONU está a precisar de uma profunda
reforma e só quem fosse eleito pelo mérito, com o prestígio, capacidade, e competências
demonstradas nos campos políticos e da administração e gestão, é que poderá
levar a cabo tão ingente tarefa, como é o caso de Guterres, que fez um brilhante
trabalho nos últimos 10 anos no
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, num período difícil, sem
recursos e com descrédito das Nações Unidas. Um trabalho memorável num período
negro da história da humanidade com centenas de milhões de refugiados devido às
hediondas guerras travadas, sobretudo em África e Médio Oriente.
Com efeito, a ONU perdeu respeito, não passando de um antro
de vaidades e burocracias que replicavam vícios políticos vividos em vários
países. Por isso a urgência da reforma e só um líder com legitimidade pode
enfrentar esse desafio. Vários líderes mundiais perceberam isso e assim nasceu
um modelo transparente que serviu às mil maravilhas ao bem preparado António Guterres,
contra o golpe oportunista do vento Leste.
A eleição deste Português brilhante e de exceção vai trazer
repercussões em Portugal, não apenas à nossa autoestima ser digna do povo que
fez a primeira revolução global e deu ao mundo novos mundos. O quinto Império
pode estar a desenhar-se, tais são os sinais das estrelas.
“Triste de quem vive em casa
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!”
………
“Grécia, Roma, Cristandade,
Europa – os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?”
Fernando Pessoa in Mensagem ( do poema quinto Império)
Durão Barroso teve o topo da
Europa a seu pés 10 anos. Agora é António que se habilita a estar 10 anos no
topo do Mundo. São sinais fortes.
Portugal beneficiará com esta eleição de eleição. A começar,
as irregulares e às vezes birrentas relações entre Angola e Portugal, vão
melhorar para bem de ambos os países, pois Angola tem aspirações regionais e um
bom relacionamento com o SG da ONU é fulcral e a falar a mesma língua. Não me
espantaria que uma das visitas de Guterres seja a Angola.
Com Guterres, a língua Portuguesa concorre a ser uma das
línguas oficiais de trabalho da ONU, cujo valor económico é incomensurável. “A
Minha Pátria é a Minha Língua”, proferida por Pessoa, não podia ter maior
expressão premonitória. Certamente uma
oportunidade para milhares de falantes da língua Portuguesa demandarem os
diversos organismos da ONU, contribuindo para o estabelecimento de redes de
contactos cujos resultados serão visíveis nos negócios e na visibilidade de
Portugal e dos países de expressão Portuguesa.
É hora de Portugal se preparar estrategicamente para
aproveitar esta oportunidade que a
história mais uma vez lhe abre. É a segunda volta dos Descobrimentos Portugueses
ao nosso alcance. Começar por se deixar de ter complexos de colonizador e
mostrar a outra faceta de um país Global, um império perdido nas brumas da
memória que pode ecoar ao virar da esquina se soubermos honrar os antepassados
descobridores. É preciso deixar os
complexos de periféricos da Europa, mostrando ao mundo o que fomos e o que
somos hoje como país moderno e com ambições legítimas.
Não somos os melhores, mas somos diferentes e inigualáveis e
isso é o trunfo e a distinção do futuro. Dos povos que toldaram o mundo que
conhecemos, o português é um deles, mas teimamos em escondermo-nos com vergonha
do passado, quando deveria ser o contrário. Não vale a pena fazer um julgamento
à história passada à luz da sensibilidade do presente e muito menos reescreve-la
à luz de alguns preceitos políticos atuais que colonizaram o sistema educativo
português pós 25 de Abril.