11/09/2016

Crónica da Ásia II – Malaca



Mário Russo
De visita à Malásia, após Kuala Lumpur, não podia deixar de visitar Malaca, uma antiga possessão portuguesa que sempre me fascinou, perdida nos confins do mundo. Ao chegar, pensando tratar-se de uma pequena cidade, fiquei surpreendido com uma cidade com cerca de 800 mil habitantes, moderna e muito forte no turismo, naquela região.
Mas o que mais me surpreendeu foi a pronta informação dada em qualquer lugar, de ser uma cidade que foi portuguesa e património da humanidade. Claro que é obrigatório visitar os redutos portugueses existentes, sendo que em termos de património subsiste a Igreja de São Pedro e as tradições festivas à moda portuguesa e o que resta da fortaleza de Malaca, apelidada de a Formosa, por Afonso de Albuquerque. O portão de Santiago, que no passado serviu de entrada na cidade e para sua defesa dos ataques dos inimigos. E o bairro português,  “Portuguese Settlement”, onde encontramos várias ruas com nomes portugueses e placas muito bem cuidadas, com uma explicação da origem do nome.
Aqui se encontram restaurantes com nomes portugueses, com a nossa bandeira e símbolos nacionais e gente a falar português.
Pois bem, em conversa com um cristang (descendente dos portugueses) de Malaca (Melaka), ele fez questão de nos levar a casa do pai porque ficaria feliz de falar connosco.
Assim fizemos e o Sr. Jorge Alcantara, filho de descendente de portugueses e de uma Singapuriana, falava português, ensinou português aos filhos como o fez seu pai, cantou canções portuguesas, confessou-se português e falava com um orgulho incrível sobre a pátria lusa, tão distante. Perguntei-lhe se o Cônsul português na Malásia os tinha visitado (bairro português com cerca de 2000 pessoas, maior que algumas freguesias em Portugal)? Ele disse que nunca lá foi. No bairro há um rancho folclórico que canta, dança e se veste á moda minhota. As canções populares têm muito do folclore português. As comidas também têm os ares nacionais, numa região em que a culinária é muito condimentada e picante, diferenciando-se por isso desse matiz.
Portugal conquistou o território em 1511 e o manteve até 1641, quando o perdeu para os holandeses. Mais de quatrocentos anos depois o pequeno reduto teima em manter as tradições, com um orgulho que não vi até hoje em lugar nenhum do mundo por onde andaram os portugueses.
A cidade foi considerada património mundial pela Unesco em 2008, precisamente devido ao passado português, que é um orgulho para os seus habitantes.
As ruínas da antiga fortaleza  é local onde se tiram fotografias de eventos, de casamentos e batizados. Visita obrigatória de milhões de visitantes, mas que não sabem quase nada de Portugal. Portugal não aproveita estas janelas de oportunidades que o passado nos legou.
De facto, Portugal que tem recuperado património, em solo Europeu, esqueceu-se de o fazer de forma consertada em outros territórios, como é o caso. Gastar uns milhões nesta parte do mundo a recuperar o património, implantar na fortaleza recuperada um museu multimédia a mostrar o poderio imperial do passado e o Portugal moderno a milhões de viajantes endinheirados que visitam a cidade, é retorno garantido. Primeiro é a forma de mostrar como Portugal é mais importante que o pequeno retângulo europeu muitas vezes menorizado pelos seus pares da UE. Depois, porque potencia o Portugal moderno a milhões de visitantes de todos os quadrantes do mundo que visitam Malaca, e com isso, potencia também o desejo de muitos conhecerem o tal país que foi uma potência mundial na época dos descobrimentos, quiçá investidores.
Senti orgulho infinito e também tristeza pelo desprezo que aquela gente foi votada pelas diversas autoridades portuguesas. Os cônsules portugueses, a maior parte deles uns pavões, cheios de vaidade e que nada fazem para valorizar o nosso país, são exemplos vivos de como se gasta mal dinheiros públicos mantendo-os em atividades frívolas e inócuas. Um alerta ao Governo Português para olhar com olhos estratégicos para os territórios que mantêm ainda marcas indeléveis da nossa grandeza como oportunidades de valorização do nosso país.