Mário Russo |
Os chamados tigres asiáticos
continuam a crescer e exibir saúde, ao contrário da maioria dos países e
sobretudo da Europa, estagnada há cerca de 10 anos. Vale a pena tentar perceber
a razão deste sucesso e socorro-me apenas de Singapura e Malásia, que acabo de
visitar.
Quer Singapura, quer Kuala Lumpur
(capital da Malásia) surpreendem pela organização, modernidade, segurança e
beleza. Outrora vilarejos de pescadores, transformaram-se ao longo dos tempos
em colossos. Cidades limpas, muito verdes e seguras com um fluxo turístico
impressionante. Aqui não se fala de crise, mas de crescimento económico.
Singapura é um caso paradigmático
de organização e excelência. Baseou o seu desenvolvimento em 3 pilares: (i) educação
de alto nível, (ii) justiça célere e rigorosa e (iii) respeito e ordem, quando
há 51 anos os pais da independência assim decidiram, como forma de serem de
facto independentes.
O sistema judicial é imaculado,
onde a impunidade tem tolerância zero. A cidade é um jardim onde não se vê um
papel no chão, onde não há paredes ou edifícios e monumentos pichados de
grafitis. A arte é exercida nos locais próprios e não nas paredes da
propriedade alheia, seja pública ou privada. Quem prevarica arrepende-se para a
vida. A segurança é total em qualquer lado. Deixamos uma carteira ou mala por
momentos e voltamos e ninguém mexeu. Os carros podem ficar de portas abertas
que não vão mexer.
Uma cidade com mais de 5 milhões
de habitantes poderia ter um trânsito caótico, mas em Singapura não. O governo
sabendo disso adotou medidas estruturantes e legais. Vias de comunicação
rápidas, bons e eficientes transportes públicos, carros a preços 4 vez mais
elevados do que na Europa. Viaturas no máximo com 10 anos de vida útil, sendo,
por isso, o 2º país que mais veículos usados vende no mundo (em proporção à
população é o maior). Viaturas com mais de 10 anos, são sujeitas a um imposto
extra tão elevado que desencoraja qualquer um a manter o velho carro (ineficaz
e mais poluidor). E todos cumprem, porque a tolerância é zero. Aqui não há a
latina filosofia do “tadinho” dele. Prevaricou, seja quem for, é punido para
não se esquecer. Levou algum tempo, mas é sucesso total.
A base, sem dúvida, é a educação
esmerada e de alta qualidade a partir da qual tudo o resto resulta, em que o
segredo é o ensino pré-primário e primário da mais elevada qualidade em que se
forma o cidadão para o resto da vida. Uma escola primária tem turmas de 15 a 20
alunos no máximo e mais que um professor de várias especialidades, com artes,
desporto entre outros. O infantil (pré-primário), as turmas são de 10 a 15
alunos e também mais de um professor e atividades altamente motivadoras. As
famílias são chamadas a sério, a responder pelos seus filhos e velhos. A
responsabilização, ordem e respeito são valores olímpicos. Por isso é uma
sociedade em que 10 % da população é multimilionária.
Os trabalhadores têm direito a
habitação, pagando rendas sociais, vivendo próximo dos locais de trabalho para
evitar gastos com viagens longas. Têm, por outro lado, a garantia de mudar para
outra habitação mais próxima do trabalho se entretanto mudarem de empresa. Pode
demorar uns meses a alteração, mas o Estado consegue soluções dentro do seu
vasto parque de edifícios sociais.
É bom sairmos deste canto para
constatarmos que não somos o centro do mundo.
Não custa nada aprender com quem
faz bem. Não é o facilitismo e o “tadinho dele”, tipicamente latino, que nos
vai levar a lado algum que seja bom. A cultura dos direitos adquiridos e, pior
que isso, dos direitos sem deveres é que vem minando Portugal.