Mário Russo |
Volta e meia os políticos são apanhados a fazer mal as
contas ou a não saber como fazê-las, que me apetece perguntar se fizeram com
sucesso alguma disciplina de matemática. Acho que não. Há dias António Costa,
acerca dos mil milhões em 4 anos relativos à Segurança Social, encalhou na
explicação. Mais tarde veio dizer que não era corte, mas poupanças lógicas de
prestações sociais que hoje se paga devido ao elevado desemprego. É lógico que
havendo mais emprego, desce a despesa correspondente a essas prestações
sociais. A conta que Costa deveria ter apresentado é que isso corresponde à criação
de cerca de 30 mil empregos por ano. Um cálculo nada difícil de se fazer e de
explicar, mas parece que a matemática atrapalha e dá trunfos ao adversário.
Mas isso é um SE, ou seja, onde se criam esses empregos?
Como se criam? Quem os cria? Que medidas vão ser adotadas para que isso
aconteça? Eram perguntas que o PáF deveria fazer e não fez. Mas Costa também
deveria perguntar a PPC como é que ele ia cumprir com o que enviou a Bruxelas a
este respeito, cuja carta é inequívoca, um corte de 630 milhões na Segurança
Social.
Mas a mais surpreendente é a resposta de PPC à notícia
factual do INE desta tarde que o défice de 2014 é de 7.4%, decorrente da não
venda do Novo Banco, e que este ano o défice público até metade do ano já vai
em 4.7%. Então não é que PPC diz que nada disso tem qualquer impacto nas
contas, nem na vida dos portugueses e que no fim do ano vai cumprir com o
défice em 2.7%, sem medidas adicionais. É fantástico. É verdadeiramente
transformar água em vinho, como fez Jesus Cristo.
Das duas uma, se não tem impacto, então há dinheiro debaixo
do colchão para superar o rombo (teoria dos cofres cheios, que os portugueses
não sabiam). Será que é o resultado do plano de choque com “enormes impostos”
que foi implementado, sem necessidades de ir tão fundo aos bolsos dos cidadãos,
a não ser para ir além da troika, destruindo centenas de milhares de postos de
trabalho e milhares de falências de empresas, sem dó nem piedade, que agora
mostra nos comícios?
Também é de se perguntar porque é que PPC queria vender o
Banco a qualquer preço, se não aquece nem arrefece? Lembram-se que ele quis que
o negócio fosse concretizado pelo BdP a qualquer custo ainda este ano?
António Costa deve perguntar aos dois cabeças de cartaz do
PáF que, sem contar com o Novo Banco, tinha reportado a Bruxelas um défice de
630 milhões que seriam resolvidos à custa de medidas adicionais, com cortes na
Segurança Social, como é que vão equilibrar se ao défice anterior se somar este
rombo?
E também como é que este rombo, que está agora finalmente
contabilizado oficialmente em défice público, não afeta a vida dos portugueses?
PPC deve explicar como é possível que não sejam os Portugueses a pagar o “pato”
de mais um banco falido, como garantiu PPC e a sua ajudante das Finanças. Explique
lá isso bem. Ou onde está a Lâmpada de Aladim.
PPC também vai ter o seu SE… que poderia ser o crescimento
da economia a justificar mais receita e menos despesas sociais para compensar.
Só que isso é pura profissão de fé, boa para a igreja, mas má para a política,
porque nem com os milhões do novo QREN a coisa endireita até ao fim do ano,
porque a anemia vai continuar.
Os políticos são mesmo muito maus nas contas. A matemática
para eles deve ser uma ciência oculta.