Miguel Mota |
A destruição da
agricultura, levada a cabo durante algumas décadas por diversos governos, teve
como consequência os nossos mercados aparecerem inundados por produtos
agrícolas vindos do estrangeiro, aumentando muito o défice da balança comercial
agrícola.
Como escrevi neste jornal em 28-10-2010 (A agricultura e o défice);
“...se é normal importar mangas, bananas ou papaias, só a
enorme incapacidade dos governantes – e alguma, também, da parte dos
agricultores e principalmente das suas organizações – é que importamos batatas,
cebolas, cenouras, alhos, alfaces, tomates, pimentos, feijão verde, melões,
melancias, laranjas, limões, ameixas, pêssegos, nêsperas, maçãs, peras, uvas,
morangos, etc. etc. etc. vindos, às vezes de bem distantes terras? De alguns
destes produtos até devíamos exportar mais do que exportamos. E note-se que a
agricultura portuguesa ainda exporta mais do que a maioria das pessoas pensa.”
Como se sabe, a referida destruição foi travada pela actual
ministra Assunção Cristas. Os resultados estão a ser evidentes. As estatísticas
mostram que de 2013 para 2014 o défice comercial agrícola teve um decréscimo
significativo. Importámos menos e exportámos mais em 2014 do que em 2013.
Do que conheço da agricultura portuguesa, de um número
significativo de casos pontuais e até da sua evolução ao longo do tempo,
acredito no seu enorme potencial. A expressão “Portugal país agrícola” não é
algo do passado. Como a Holanda, a França, a Espanha e os Estados Unidos são
países agrícolas, o que não os impede de terem boa indústria. Porque a dualidade “agricultura ou
indústria”, que vi expressa algumas vezes ao longo dos tempos, não tem sentido,
pois até frequentemente se complementam.
Com base no que acredito desse potencial, publiquei neste
jornal, em 5-1-2012, “De 3 mil milhões de défice para 3 mil milhões de
superavit”. Importávamos então 6 mil milhões de euros de produtos agrícolas e
só exportávamos 3 mil milhões. Desenvolvendo a agricultura, acredito que se
poderia importar bastante menos e exportar muitíssimo mais, de forma a inverter
a situação e o comércio agrícola passar a ter um saldo positivo de 3 mil
milhões de euros.
O número de anos que Portugal levará a atingir esse
objectivo – se o quiser alcançar - dependerá da intensidade que o governo e os
agricultores devotarem à sua melhoria. A redução do défice agora conseguida é
apenas um pequeno começo.