JOAQUIM JORGE, FUNDADOR DO CLUBE DOS PENSADORES
“Fazer um livro dá muito trabalho e muitas horas de sono, mas penso que é importante fazer pedagogia”
O fundador do Clube dos Pensadores, Joaquim Jorge, apresentou recentemente o seu novo livro, “Pedagogia Cívica”, numa sessão que contou com a presença da ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz. Aproveitando a oportunidade, o AUDIÊNCIA esteve à conversa com o escritor que
vive em Gaia há mais de 30 anos e que é conhecido pelas suas afirmações frontais.
O que é que pode ser lido no livro Pedagogia Cívica?
Pode ler-se imensa coisa
relacionada com fazer pedagogia cívica que pode abarcar assuntos de política,
cidadania,ambiente, etc. O livro foca como gostaria que os políticos fizessem
política pelo exemplo ,e não, com palavreado vão.Os cidadãos estão fartos de gente que
se aproveite do erário público e que lhes mintam. A sociedade deve ter a segurança que a
justiça funciona como parte do sistema.Há que educar a sociedade em que o que
é público é sagrado. Que não se pode meter a mão no que é de todos. O problema
que temos é que alguém pense que o dinheiro de todos não é de
ninguém.
O livro reúne a experiência das várias edições do Clube dos
Pensadores?
Não. O livro trata de assuntos na ordem do dia: essencialmente a relação
cidadãos vs. política , mas também a relação cidadão vs. operadoras
telecomunicações , a relação dos jovens com o mundo de hoje, a relação dos
cidadãos com os animais, etc.
Há muita gente a fazer livros . Eu até digo em ar de brincadeira que há
mais gente a fazer livros do que a lê-los. Claro que é um exagero. Fazer um
livro dá muito trabalho e muitas horas de sono, mas penso que é importante fazer
pedagogia , no fundo voluntariado social – é o que faço no Clube dos
Pensadores.
Critica o elevado número de partidos políticos e candidatos às
presidenciais. É um dos males da democracia?
Sim , há tanta gente a concorrer a eleições. Para quê? Somos um país tão
pequeno é preciso tantos partidos? Compreendo para terem tempo de antena...
Seria importante ajustar a lei de formação de partidos. Há partidos em Portugal
que se formaram com 7.500 assinaturas e nada fazem numa legislatura, depois
concorrem e por vezes até têm menos votos dos que indicados para se formarem. A
lei tem que ser alterada, há partidos que não mostram nenhuma actividade não tem
razão de existir. Um partido formado não pode ser para toda a vida tem que
mostrar ao longo da sua existência serviço. Com isto não sou contra a existência
de partidos , sou sim, a favor de partidos activos, interventivos e ajustados à
nossa sociedade. Um dos males da nossa sociedade é o mau exemplo dado pelos
políticos nas suas atitudes e comportamentos. Quem está na política julga-se uma
casta superior, para mim as pessoas mais importantes e com mais valor são
pessoas anónimas e desconhecidas da opinião pública , que estão em casa porque
não estão para se incomodar. A política não exclusivo de partidos e de
militantes de partidos. A política tem que ver com todos nós.
Citou Winston Churchill numa das recentes crónicas no JN, quando
este afirmou que a democracia, embora melhor sistema que outros, é a pior forma
de governo. Vislumbra ser possível outro regime político? Ou uma evolução do
sistema democrático?
Sou um democrata e porventura se vivesse numa ditadura emigrava e tentava
derrubar esse regime. Provavelmente iria preso. Não concebo um regime sem
liberdade e dignidade humana. Todavia este nosso regime tem vindo ao de cima
muitos males. O regime tem que evoluir, haver uma regeneração do sistema
político. Há quem advogue correr com estes políticos todos . Porém os novos
políticos muitas vezes são piores do que os antigos. Prefiro a reinvenção da
democracia, a obrigatoriedade de prestação de contas dos políticos e
transparência na vida pública.
O sistema político precisa de válvulas
de segurança, de mecanismos de controlo e auto-regulação. A legitimidade do voto tem um papel
fundamental em democracia, mas não lhe dá o direito de influenciar e interferir
noutras áreas. O Clube dos Pensadores serve de
complemento dos partidos políticos não os quer
substituir.
Ferreira Leite