Carla Ribeiro |
Caminham pelas ruas da
cidade.
Solitários, tantas vezes sem
rumo.
Rostos conhecidos,
Rostos desconhecidos.
Olhares triste,
Olhares sem brilho.
Guardam no peito tantas
historias para contar.
Alegrias de outrora,
Amarguras, lágrimas
sufocadas,
Lágrimas derramadas…
Caminham pelas ruas da
cidade
Irrompem na solidão.
Observam, as putas, os
chulos,
Os travestis, os
prostitutos.
Mas continuam a caminhar na
sua solidão.
Hoje veio juntar-se a nós.
Com receio, com vergonha.
Oferecemos um café.
Neste rosto um novo brilho,
Sorrisos, olhos que se
rascam de tanto brilho.
Por alguns momentos
Despiu a sua solidão
Aceitou o café, partilhou
algumas palavras
Sorrisos, gargalhadas até.
Um rosto ainda sem marcas da
rua,
Mas com a amargura da sua
Vida,
Que a carrega bem dentro de
si.
Ainda com medo, com receio,
com vergonha,
E carregado de solidão.
Na bolsinha vai guardando,
O que de físico temos para
lhe dar.
No coração, guarda a alegria.
Com ela espero que consiga
esbater tanta da sua solidão.
Simples, barbeado, até mesmo
perfumado,
Agradece e parte.
O seu olhar volta a estar no
chão,
Volta a olhar as pessoas que
num frémito não param de passar,
Parece recordar a sua vida
de outrora em cada um destes caminhares.
Caminham na solidão,
Trazem neles o medo,
A desilusão,
A dor,
A vergonha.
Levam agora algum amor,
Sorrisos, alegrias,
Partilhas de vida.
Que por momentos quebram
toda a solidão.