O Clube dos Pensadores fez 9 anos de atividade ao mais
alto nível concluindo o 89º debate de temas da maior importância para a vida da
nação. Para esta efeméride, Joaquim Jorge foi feliz ao convidar Miguel Cadilhe,
um Senador da República que foi ministro das Finanças por 5 anos no Governo de
Cavaco (o Homem que seca como o eucalipto), considerado por muitos, à esquerda e
à direita, um dos melhores de Portugal.
Joaquim Jorge fez a apresentação do convidado de Honra, que se licenciou
com média de 20 valores na Faculdade de Economia do Porto e estudou na London
School of Economics,
uma das escolas mais prestigiadas do mundo. Não seguiu a carreira académica,
onde teria sido brilhante, mas a aplicação prática ao serviço das empresas e da
nação.
Miguel Cadilhe dissertou sobre a Democracia, a nossa
democracia que considera estar doente. A democracia que não tem sabido escolher
os melhores, antes, tem-se pautado por escolhas erradas e não tem um antídoto
contra este mal e pergunta, como é que a Democracia (como sistema) não tem uma
forma eficaz de fazer escolhas entre os bons, os melhores, os mais sérios e
capazes?
Com efeito, muitas vezes, e Portugal nos últimos anos é
a demonstração clara disso, é exatamente o oposto que acontece, as péssimas
escolhas de pessoas incompetentes, corruptas, com falta de ética, que guindam
aos lugares de topo.
A democracia que fecha os olhos à corrupção e convive
com os desvios de ética é uma Democracia doente, que é a que está latente em
Portugal.
Miguel Cadilhe falou sobre a perda de oportunidade do
sistema político beneficiar-se da experiência detida pelos diversos Presidentes
da República, em favor do país, porque a Constituição não lhes reserva poderes,
a não ser os de exceção, raramente aplicados. Não tendo dito, digo eu, pouco
passam de “corta-fitas”.
A Democracia criou o princípio do centralismo, mãe do
desperdício. Somos um dos sistemas mais centralizados de toda a Europa. A
reforma do Estado está por fazer e deve basear-se na subsidiariedade e na
vigilância., com bons controlos centralizados e descentralizados de qualidade.
Portugal precisa da reforma estrutural do Estado macrocéfalo e voraz que temos.
Com efeito, a mãe dos desperdícios é esta Democracia e centralismo e não a
regionalização.
Centralismo que criou monstros como as extravagâncias
das PPP, os investimentos em submarinos de duvidosa necessidade e défices
tarifários postergados para as gerações vindouras. Temos uma Democracia que
recusa ver a realidade, avisa Cadilhe, que já assim escrevia há 10 anos, pois
vislumbrava já o abismo. Ninguém o quis ouvir e o resultado aí está.
Portugal perdeu nestes 4 anos o seu melhor momento para
encetar as verdadeiras reformas de que o país precisa, e não as conjunturais,
que não são reformas, porque são passageiras. A causa é a fraca qualidade dos
políticos e líderes, porque não apareceu um reformista. De facto, a Constituição
e esta Democracia carregam o Estado com funções, no entanto sem
meios.
Miguel Cadilhe disse que a qualidade da democracia é
diretamente proporcional à qualidade das pessoas, coisa que se pode facilmente
constatar que Portugal não tem, pois a cada governo que passa, mais incapazes
são os seus integrantes.
A democracia assim, como diz o povo, tem um mal ruim.
O governo português aceitou a ditadura da troika e a
única coisa que fez foi executar essa política. Destruiu emprego, causou
falências, perdeu centros de decisão, vendeu as joias da coroa e no fim de tudo
não diminuiu a dívida, uma das maiores da Europa. Miguel Cadilhe disse que
Portugal poderia ter encetado o plano de austeridade, mas teria moral para na
Europa levar com uma mão as medidas de sacrifícios adotados e na outra solicitar
a solidariedade para a renegociação honrada da dívida. Queremos pagar, mas ao
ritmo que podemos. A dívida pública portuguesa deve ser perdoada em 40% para ser
pagável. Os juros devem ser mais baixos e não como acontece hoje, sem que o
nosso Governo se apresente como negociador, antes aparece como executante do
programa da ditadura da tróika.
Portugal com líderes moralizados, poderia aparecer na
Europa com esse repto.
Miguel Cadilhe também falou da Grécia. O país do Syriza
tem um caminho a percorrer, pois a fraude, evasão fiscal, entre outras endémicas
doenças, é um desafio aos governantes. Mas simpatiza com a ideia reivindicada
pelo seu governo que a Alemanha tem uma dívida resultante da Grande Guerra.
Pessoalmente julgo que o novo governo Grego é uma pedrada no charco europeu que
mudará (nem que seja lentamente) a forma como a eurocrática Bruxelas vê as
coisas.
Um aniversário de qualidade, por um Miguel Cadilhe que
foi uma surpresa na vertente humana. Um contador de histórias, com refinado
humor, um pensador culto e Maior, exatamente ao contrário do que a imprensa faz
dele.
Mário Russo |
Antes houve um jantar com um brinde de Miguel Cadilhe ao
Clube dos Pensadores e no final , bolo e champanhe.
A sessão teve um
momento musical, por
Jorge Santos Silva, professor de música, que tocou ao piano “Strangers
in the night” de Frank Sinatra .