Tereza Halliday |
Mortalidade infantil antes de
completar o primeiro ano de vida traumatizou gerações e ainda faz parte de
algumas estatísticas da população desvalida de pré-natal e saneamento. Talvez,
inconscientemente, pais e mães façam grandes comemorações quando a criança sadia
completa doze meses de vida. Como para exorcizar o medo ancestral da mortalidade
prematura. Só que o aniversariante ainda não entende da festa em sua honra –
grande sucesso da casa de eventos que conseguiu marqueteá-la: festa para adultos
e crianças maiores, com todos os penduricalhos – diversões agitadas, bolinhos,
doces, refrigerantes - quando não uísque para os maiores de idade. E as
indefectíveis lembrancinhas comemorativas que os convidados, depois, não sabem o
que fazer com elas, em apartamentos cada vez mais carentes de espaço para
depósito.
Sendo de outra geração, celebrei
todos os aniversários do meu filho com festa pequena e alegria grande. Em casa.
Não faltava o bolo ritual com velinhas, nem as fotos documentais, sem precisar
de pau de selfie, pois um amigo sempre se oferecia para bater foto onde pai, mãe
e aniversariante pudessem sair juntos. Nos 11 anos, foi especial: jantar
somente para nós três, em restaurante onde havia show de mágica – sua grande
curtição.
Os aniversários de criança
tornaram-se megaeventos. Excesso de decibéis, estética própria com festas
temáticas. Afinal, é preciso dar graças pela vitória daquela vida em pleno
desenvolvimento e retribuir as festas para as quais se foi convidado. Um pouco
de ostentação, para quem gosta. Muitos não dispensam este ato público de amor,
que vai ficar registrado em arquivos eletrônicos, raramente consultados anos
depois. Colhem estatísticas de curtidas pelos Facebooks e Whatsapps – medida de
popularidade e vaidade dos pais, avós, tios, por aquele “sangue do meu sangue”
sendo gente. Mas o importante mesmo é esse ato público selado em privado, no fim
da noite, com beijo e bênção na cabeça do (a) fofinho (a) - este sim, gesto
necessário e inesquecível pela vida a fora.