14/02/2015

Políticos




O Dalai Lama, no seu livro Conselhos do Coração, alerta para os que se dedicam à política e fazem inúmeras promessas para atraírem a si a estima e o apoio dos eleitores. Seria melhor serem honestos e exprimirem as suas convicções com sinceridade. Todavia, como sabemos, as suas palavras mudam conforme as circunstâncias – prometem uma coisa e no poder fazem outra.
Mas o que me faz mais confusão é a diferença entre um político antes de ser eleito e depois de eleito. Não tenho dúvidas de que a maioria tem boas intenções, mas uma vez em funções ficam deslumbrados e convencidos, esquecendo o objectivo para que foram eleitos.
É impressionante a maneira como o poder modifica, empobrece e aliena. Quase todos chegam com frescura, veracidade, disponibilidade, simpatia e genuína ânsia de melhorar a sociedade. Mas basta algum tempo, um ano, passar-se a ser escoltado, ter carro com motorista, ser honrado, rodeado de todo o tipo de atenções, ter influência, para mudarem completamente e atraiçoarem-se a si mesmos. Há uma evidente perda do contacto com a realidade.
Segundo Carles Casajuana [diplomata espanhol], um dos graves problemas de que os políticos padecem tem a ver com pura incompetência. Verdade seja dita que a maioria dos governantes não é muito boa a governar, mas é boa a alcançar o poder e a mantê-lo.
Outra coisa evidente é que um político antes de ser eleito tem tempo para tudo, mas uma vez eleito não tem tempo para nada. A sua vida é assoberbada de trabalho e de compromissos, tem uma agenda tão extenuante e delirante, que não dorme, não pensa, não lê, não fala com a sua família, não vai à rua, não tem tempo para atender uma chamada de um amigo. No fundo deixa de ter uma vida normal como qualquer um de nós e parece que deixa de ser humano. Eu já constatei este facto com amigos que estão na política activa, não têm tempo para nada, estão sempre com ar cansado, sem paciência, esgotados e perdem a noção da realidade.
Quanto mais poder tem uma pessoa, mais consciente tem de estar no que pensa e nas suas intenções para não perder o sentido das suas decisões. Infelizmente, como perde a noção da realidade e tem falta de tempo para meditar cuidadosamente, saca conclusões precipitadas da informação de que dispõe, na maioria das vezes incompleta.
Esta soberba do poder aliada à falta de tempo é uma das causas de muitos erros cometidos, para além da necessidade constante do elogio e adulação que todos os políticos querem e desejam. Pobres de nós que somos dirigidos por este tipo de políticos.

JJ

*artigo de opinião publicado no jornal Público