Logo que o novo executivo socialista tomou posse fui apologista
que se deveria fazer uma sindicância à CM Gaia, tendo em conta as dúvidas
suscitadas pelo PS e rumores de determinadas situações. Li em notícias e fui informado
que não havia dinheiro para o fazer! Nunca entendi muito bem como há dinheiro
para festivais e motonáutica, e não há dinheiro para se saber em que pé está a
situação económica da CM Gaia. Seria importante para apurar responsabilidades e
traçar um plano de reescalonamento da dívida da CM Gaia.
As notícias sobre dívidas têm saído por conta-gotas e por vezes
repetidas, o que é muito mau para a imagem do executivo.
Há um erro de casting na
forma de abordar este intricado problema. Ou se procurava o apoio de Luís
Filipe Menezes, anterior presidente, que está por dentro dos dossiers e se
pedia a sua opinião avalizada na solução deste imbróglio, ou partia-se para
outra solução assumindo a ruptura com todas as consequências que daí podiam
advir.
Não se fez isso, ficou-se como o tolo no meio da ponte, não se
sabendo para que lado ir. Porventura esta indefinição tem a ver que o PS foi
oposição durante muitos anos estando por dentro de tudo que se estava a passar
e Eduardo Vítor Rodrigues esteve como vereador da oposição em vários executivos
assumindo nos últimos anos a liderança da oposição, quando o candidato do PS à
liderança da CM Gaia, Joaquim Couto abdicou.
Por outro lado, no actual executivo da CM Gaia, para além de cinco
vereadores do PS, há um vereador do PSD e três vereadores independentes de
Guilherme Aguiar. É complicado dizer-se mal de quem se tem na nossa casa.
Guilherme Aguiar fez parte da administração da Gaianima e de anteriores executivos,
o PSD esteve à frente dos destinos da Câmara durante dezasseis anos.
Uma Câmara é uma instituição que exige continuidade e um trabalho
a longo prazo, não é por se mudar o seu presidente que as coisas se devem mudar
todas. A relação entre Luís Filipe Menezes (LFM) e Eduardo Vítor Rodrigues
sempre foi aparentemente boa, pelo menos institucionalmente era isso que transparecia,
havendo elogios mútuos chegando o actual presidente a estar presente no
aniversário dos 60 anos de LFM.
Compreendo e até aceito que se procurasse uma transição com
elevação e respeito pelo que foi feito anteriormente. Mas custa-me aceitar este
rol de notícias sobre as dívidas da Câmara, parece que se está a queimar em
lume brando LFM. Foi notícia, por estes dias, que foi indeferida no Supremo Tribunal Administrativo uma reclamação da CM Gaia sobre a VL9 (o proprietário dos terrenos pede 27 milhões de euros de indemnização).
Não esquecer que para além deste processo há o da CIMPOR que pede uma
indemnização avultada, para não falar da Gaianima.
Não seria de bom-tom procurar resolver estes processos de uma
forma diplomática e nos bastidores, sem alarido, para se tentar chegar a acordo
com os intervenientes e a CM Gaia? Em vez de constantemente saírem notícias que
só degradam a imagem da CM Gaia e dos próprios gaienses, no qual me incluo. Já
chega de andar a fazer sempre queixinhas públicas que o Menezes é isto e é
aquilo. Todos nós já sabemos que há que pagar as dívidas de indemnização, mas
já é tempo de se arranjar uma solução para o problema e apresentá-la
publicamente aos gaienses.
Luís Filipe Menezes cometeu erros mas não é um herege, fez muito
por Gaia e colocou Gaia no mapa. Cometeu alguns exageros e fez obras que
poderiam ter sido feitas de outro modo, mas verdade seja dita, Gaia antes de Menezes
era uns arrabaldes do Porto. Agora é uma cidade moderna e com vida própria.
Por outro lado, todos sabemos se Luís Filipe
Menezes pudesse concorrer à CM Gaia vencia sem apelo nem agravo. Pela limitação
de mandatos não o pôde fazer e tentou a aventura do Porto que lhe saiu furada.
Menezes foi perito em fazer muitos
"amigos" que só o eram para ter lugares e benesses. Na primeira
oportunidade traíram-no esquecendo-se de tudo que lhes deu. Nessa gente não
existe a palavra reconhecimento e solidariedade.
Há já quem anseie e tenha
saudades de Luís Filipe Menezes. Mas para isso se verificar tem que resolver os
seus problemas com alegadas irregularidades judiciais e depois construir um novo
projecto com outro tipo de pessoas e de companhias.
JJ
*artigo publicado no jornal Audiência