Com efeito, os médicos defrontam-se hoje com doentes que
deixaram de ser passivos e que tinham os médicos paternalistas do passado,
porque já submeteram os seus problemas a possíveis respostas em pesquisas na
internet, colocando novos problemas e escrutínio aos médicos, com os perigos
que isso representa a quem tem uma grande iliteracia médica. Mas induzindo uma
incerteza nos médicos e crescente dificuldade no diagnóstico.
Hoje em Portugal envelhece-se mais tarde mas com menos
qualidade de vida quando comparando com o que sucede no norte da Europa, onde
as pessoas envelhecem mas com qualidade de vida. Tem a ver com os
comportamentos alimentares e de estilo de vida. Porque estamos a ficar tão
obesos? Com hipertensão? Com alergias? São respostas que o passado pode dar,
mas que nem sempre sabemos interpretar.
Os portugueses exageram na automedicação, especialmente nos
antibióticos de modo que o seu efeito começa a falhar em doenças do passado, como a tuberculose, que hoje é uma nova doença devido a esse
comportamento.
Os médicos, por sua vez, beneficiam de uma panóplia de
ciências e tecnologias complementares a aumentar a sua capacidade de
diagnóstico jamais observada. A engenharia, a informática, a física, a
matemática, a nanotecnologia, etc., vieram dotar o ensino e investigação médica
de meios jamais tidos no passado. Os avanços na genética têm sido usados para prever
doenças, mas a ideia que resolve tudo é disparatada. Os médicos têm de voltar a
ver os doentes e evitar os sobrediagnósticos que não trazem benefícios para a
saúde. Sobrinho Simões deu o exemplo de micro cancros detetados por exames
sofisticados no intestino que podem ser deixados porque o paciente não morrerá
deles, mas de outra maleita. Com efeito há possibilidades de se ter muita
informação, porém sem se saber que uso dela fazer.
Sobrinho Simões traçou com precisão o quadro do sistema de
saúde português que está sobrecarregado nas urgências devido ao comportamento
dos portugueses. A rede de cuidados de saúde tem excessivos hospitais, um em cada
esquina que fazem de tudo, centros de saúde a menos e a atuação de médicos onde
deveria ser de enfermeiros e de outros técnicos de saúde, assistentes sociais,
etc. Aliás, disse que temos enfermeiros de grande qualidade, que seriam médicos
de qualidade em muitos países. Pois no acompanhamento de muitos casos de
doenças seriam os técnicos mais qualificados para isso, mas os portugueses
querem sempre um médico e não dispensam umas pastilhas. Automedicam-se e
pressionam para os médicos receitarem antibióticos indiscriminadamente (matar a
mosca com morteiro).
Garantiu que vamos atingir os 100 anos, tal o avanço da
medicina, mas devemos ter comportamentos que levem à qualidade de vida, ou o
EA, envelhecimento ativo. Os Estados devem por isso aproveitar esta sabedoria
por mais tempo, em vez de dispensar esta força de trabalho precocemente como
acontece hoje.
Os médicos têm desafios a vencer nesta nova medicina com
novos doentes e novas doenças, regressando ao passado, baseado na Prevenção, no
Prognóstico, na Participação (do e com o doente), na Personalização e na
Precisão. Doentes e médicos lidam mal com a incerteza e por isso estes devem
voltar a debruçar-se sobre os doentes personalizando o diagnóstico e a
terapêutica, pois somos o reflexo dos nossos antepassados e dos nossos
comportamentos atuais. Podemos estar a pormo-nos a jeito em algumas situações
de doença. Por isso, é preciso evitar/prevenir.
Mário Russo |
Sobrinho Simões consegue explicar o complexo mundo das
ciências médicas de modo que todos entendem, apenas possível a quem de facto
sabe muito. É uma pessoa simpática, bem-humorada, bom contador de histórias,
muito culto e muito afável que logo à primeira é impossível não nos
identificarmos e sentir uma empatia e grande confiança, que normalmente é o
segredo dos bons médicos. É demasiado modesto, pois acha que não é importante,
quando todos sabemos que é o nosso Ronaldo da Medicina e um orgulho para os
portugueses.
Uma sala cheia de pessoas ávidas de saber mais e mais. A
conversa poderia durar horas que ninguém arredaria pé da sala tal o interesse
com que todos acompanharam a sessão. Parabéns Joaquim Jorge, pois é um inicio
de atividade ao mais elevado nível e um bom augúrio para 2015. Sobrinho Simões
prometeu que viria de novo ao CdP, pois sente-se bem neste serviço cívico ao
povo português. Já reservei a cadeira.