Miguel Mota |
No tempo do governo PS
de Sócrates e quando o país já estava em grande penúria financeira e a serem
extintos muitos serviços públicos, como Centros de Saúde e maternidades, acções
de extrema-direita, de um partido que se diz “de esquerda”, foi declarado que o
estado ia nacionalizar um banco falido (o que motivou o meu escrito “Socialismo
ao contrário”) com o custo inicial da astronómica quantia de 4.000 milhões de
euros.
Quando foi evidente
que o governo estava a manter o banco em questão – o BPN – como entidade
separada, para depois vender, eu disse que, na minha modesta opinião, depois de
ter sido feito o que eu considerei um
erro grave, o que se devia fazer era a transferência de tudo o que restava do
BPN, nomeadamente balcões e pessoal, para a Caixa Geral de Depósitos, o banco
de que todos os portugueses são o dono.
(Não me furto a contar
que, quando num grupo expressei essa opinião, uma pessoa, que sabe que sou
anticomunista, pois não gosto de ditaduras, declarou, com um certo espanto,
“mas isso é o que propõe o Partido Comunista!” Respondi-lhe que, se eu
considerava algo como certo, não alterava a minha posição por o PC também a
perfilhar. Aliás, os vários governos, principalmente o PS de Sócrates e o PSD
de Passos Coelho, têm dado amplas razões para Jerónimo de Sousa dizer muitas
verdades, não só na minha opinião mas na de muita gente.)
Depois de meter ainda
mais dinheiro no BPN, o governo vendeu o banco... por uns míseros 40 milhões de
euros! Se vendesse por um valor idêntico ao que lá meteu, acrescido dos
avultados juros desse capital, compreendia-se. Como quem o comprou não foi,
certamente, para perder dinheiro, a pergunta que surge é: o que é que o novo
dono vai fazer que a Caixa Geral de Depósitos não é capaz?
Parece que algo
semelhante se está a passar com o BES. Eu repito a pergunta: porquê vender?
Uma outra pergunta me ocorre.
O governo clamou que uma das razões para ter de vender a TAP – uma entidade do
maior interesse nacional e uma presença de Portugal no mundo – era ela precisar
de uma injecção de capital. E que a UE não permite que o governo o faça, algo
que, se é verdade – vi indicações que dizem não ser – além de considerar que
essa interferência excede o que deviam ser as suas competências, me deixa
perplexo. Então o governo não pode meter dinheiro numa empresa que é totalmente
sua – diz-se que a bem da concorrência – e pode meter verbas avultadíssimas em
empresas privadas?