Tereza Halliday |
A lei do divórcio foi sancionada em
1977, quando a sociedade apresentava numerosos casos de casamentos desfeitos e
reconstrução de vida conjugal sem respaldo legal à nova família. Apesar da
oposição eclesial, a vida real mostrava número crescente de descasados reunidos
a outros parceiros, não raro em relações duradouras, sem lei para amparar viúvas
e filhos, estes estigmatizados como “bastardos”. As más línguas usavam termos
derrogatórios para definir pessoas separadas que tinham novos companheiros. Era
a fobia à união de um homem e uma mulher sem legitimação legal nem bênção
religiosa.
Foi preciso haver
numerosos casos de casais do mesmo sexo, para a postura judicial mudar (como
teve de mudar face à necessidade do divórcio) e o Estado regulamentar pensão,
herança, guarda de filhos, adoção, protegendo legalmente participantes da
chamada união homoafetiva. Isto açulou aversões e repúdio, até mesmo violento.
Alguns são obcecados raivosos quanto ao homossexualismo. Não seria a homofobia
um distúrbio psiquiátrico? Eduardo Jorge, médico, político e candidato à
presidência da República pelo Partido Verde, em entrevista à revista Época,
disse: “... O que afeta minha vida, sua vida, o fato de um rapaz ir lá, casar
com outro rapaz e viver tranquilamente sem me prejudicar em nada? Isso [a
homofobia] é de pasmar. É falta do que fazer”.
Seria sábio manter Igreja e Estado
separados, neste e noutros assuntos, porque onde são entremeados, pelo mundo a
fora, não dá certo. Para as igrejas em geral, casamento é união sagrada entre
homem e mulher. Elas tem pleno direito de determinar princípios e regras para os
seus membros e estes, de aplicá-los à própria vida. Infelizmente, ao tratar de
gays e lésbicas, certos cristãos tendem a esquecer ensinamentos basilares do
cristianismo: o não julgar e a misericórdia.
(Diário de
Pernambuco, 6/10/2014)