Miguel Mota |
A revista “Empresas
e Negócios”, distribuída com o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias de
28-7-2014, é dedicada à agricultura, repetindo várias vezes a palavra
“inovação”. A inovação não cai do céu. Resulta do trabalho de investigação e,
na agricultura, é o objectivo da investigação agronómica. Na indústria pode
importar-se a inovação, pagando patentes. Mas na agricultura a inovação
estrangeira não pode ser usada sem se investigar antes se também resulta em
Portugal e em que locais, pois as condições naturais – a que a agricultura está
submetida – são muito variáveis.
Numa notícia
informa-se que está em curso um “Programa Nacional de Melhoramento Genético do
Arroz”. É boa notícia. Mas leva-me a recordar que, em tempos, existiu na
Estação Agronómica Nacional um Departamento de Melhoramento de Plantas, com uma
Secção de Melhoramento de Arroz. Os seus dois bons investigadores, os
engenheiros agrónomos Manuel Viana e Silva e Augusto Simplício Duarte,
infelizmente já falecidos, “fabricaram” novas e melhores variedade de arroz.
Tudo isso foi destruído nas últimas décadas, como quase toda a investigação do
Ministério da Agricultura, particularmente durante o governo PS de Sócrates. E
assim se afundou Portugal.
O actual governo
travou essa destruição e oxalá consiga reconstituir e ampliar o que já existiu,
a nível estatal. É bom que haja investigação nos privados, mas eles só fazem a
investigação que lhes dê directamente dinheiro e, normalmente, a curto prazo. A
investigação do estado é um investimento que rende grandes juros. Nalguns
casos, directamente, com aquilo que é vendável. Em muitos outros, os mais
importantes em valor, indirectamente, através dos impostos cobrados por motivo
de aumentos no PIB. Os nossos governos têm mostrado não o saber. Esperemos que
a actual ministra da Agricultura saiba.
Os agricultores
de Elvas conhecem o valor da investigação agronómica. Ao longo dos anos,
cultivaram muitos milhares de hectares de variedades de trigos e forragens obtidas
na sua Estação de Melhoramento de Plantas, criada em 1942 e hoje com outro
nome. Talvez ainda haja quem se lembre das primeiras dessas variedades, lançadas
na lavoura na década de 1950, o trigo Pirana e o Grão da Gramicha, que tiveram
grande expansão no país graças à sua maior produtividade. Era excelente
“inovação”, palavra que os nossos políticos “descobriram” recentemente, como
algo novo.