Miguel Mota |
“Não
haveria dinheiro para pagar salários e pensões” foi a frase com que Sócrates
justificou a necessidade de submeter o país à humilhação de ser dominado
por banqueiros internacionais. Isto sucedeu depois de, em seis anos, graças a parcerias
resultantes de gestão danosa, este governante ter feito subir a dívida pública
de menos de 60% do PIB para 94% do PIB, mais de 50% de aumento! Nos anos até
2005, ano da tomada de posse do governo PS, a dívida manteve-se abaixo de 60%
do PIB.
Ouvimos
depois essa frase a Passos Coelho, para tentar justificar mais cortes, a
famigerada 'austeridade'.
Mas
os portugueses, adormecidos com a possibilidade de protestarem contra o governo
– isso basta-lhes para pensarem que vivem em democracia – têm aceitado como boa
essa desculpa esfarrapada. Não lhes ocorreu perguntarem a esses
governantes se o dinheiro que havia não chegava para pagar ordenados e pensões
e só chegava para continuar a dar às fundações ditas privadas, mas que vivem
alimentadas pelo dinheiro público; se o dinheiro chegava para dar milhões aos
partidos; se o dinheiro chegava para as imensas mordomias que países ricos não
dão aos seus equivalentes, e que, todas juntas, somam muitos milhões; se o
dinheiro chegava para continuar a alimentar as parcerias resultantes de gestão
danosa, a causa do enorme aumento da dívida; se, na realidade, o dinheiro que
não haveria era apenas para salários e pensões?
Quando, em
2011, os portugueses elegeram o novo governo, chefiado por Passos Coelho,
esperavam que fosse corrigir a gestão danosa do PS. Sem eleições livres,
obrigados a votar em partidos e não em pessoas; a ter como primeiro-ministro o
chefe do partido mais votado, posição a que fora elevado exclusivamente pelos
seus correligionários; sendo, portanto, limitadíssima a possibilidade de
escolha, foi aquela a solução votada pela maioria. Esperavam, naturalmente, que
o novo governo
corrigisse os desmandos do PS. Infelizmente, o novo governo
continuou na mesma senda destruidora de Portugal, nada corrigiu e continuou a
agravar a vida da grande maioria dos portugueses e a enriquecer ainda mais a
minoria de ricos. A dívida pública, que se esperava que fosse sendo reduzida,
continuou, inexplicavelmente, a subir
e em 2013 atingia 129 % do PIB.
No mesmo
período, foram “privatizados” mais serviços públicos de importância nacional,
vendidos a preço de saldo e alguns deles rendendo boas quantias a quem os
comprou. Um dos mais chocantes foi o serviço de Correio, um serviço de
responsabilidade e que até é um perigo estar em mãos privadas e estrangeiras.
Para que o negócio fosse mais rendoso para o comprador, extinguiram-se, antes
da venda, dezenas de estações de Correio que tinham grande movimento, obrigando
as populações que serviam a deslocarem-se a longa distância. Para cúmulo, logo
após a venda de um serviço que já dava lucro, o custo da correspondência foi
aumentado em cerca de 30%!
O governo tem
dito que está tudo melhor, que as exportações aumentam, que o desemprego baixa,
que a economia cresce, etc. Mas parece que não percebe que os portugueses, a
tal sacrificada classe média, só acreditam em melhoria no dia em que começarem
a receber – e não em pinguinhas miseráveis, mas em quantitativos significativos
– o muito que lhes subtraíram nestes últimos anos. Enquanto lhes anunciam mais
cortes, continua a pobreza a aumentar, mantêm-se aqueles absurdos gastos acima
referidos e, ao mesmo tempo, também aumenta o número de milionários. Assim, não
esperem que qualquer pessoa normal acredite em melhorias.