17/07/2014

Não haveria dinheiro


Miguel Mota 
“Não haveria dinheiro  para pagar salários e pensões” foi a frase com que Sócrates justificou a necessidade de submeter o país à humilhação  de ser dominado por banqueiros internacionais. Isto sucedeu depois de, em seis anos, graças a parcerias resultantes de gestão danosa, este governante ter feito subir a dívida pública de menos de 60% do PIB para 94% do PIB, mais de 50% de aumento! Nos anos até 2005, ano da tomada de posse do governo PS, a dívida manteve-se abaixo de 60% do PIB.
Ouvimos depois essa frase a Passos Coelho, para tentar justificar mais cortes, a famigerada 'austeridade'.

Mas os portugueses, adormecidos com a possibilidade de protestarem contra o governo – isso basta-lhes para pensarem que vivem em democracia – têm aceitado como boa essa desculpa esfarrapada. Não lhes ocorreu  perguntarem a esses governantes se o dinheiro que havia não chegava para pagar ordenados e pensões e só chegava para continuar a dar às fundações ditas privadas, mas que vivem alimentadas pelo dinheiro público; se o dinheiro chegava para dar milhões aos partidos; se o dinheiro chegava para as imensas mordomias que países ricos não dão aos seus equivalentes, e que, todas juntas, somam muitos milhões; se o dinheiro chegava para continuar a alimentar as parcerias resultantes de gestão danosa, a causa do enorme aumento da dívida; se, na realidade, o dinheiro que não haveria era apenas para salários e pensões?
Quando, em 2011, os portugueses elegeram o novo governo, chefiado por Passos Coelho, esperavam que fosse corrigir a gestão danosa do PS. Sem eleições livres, obrigados a votar em partidos e não em pessoas; a ter como primeiro-ministro o chefe do partido mais votado, posição a que fora elevado exclusivamente pelos seus correligionários; sendo, portanto, limitadíssima a possibilidade de escolha, foi aquela a solução votada pela maioria. Esperavam, naturalmente, que o novo governo
corrigisse os desmandos do PS. Infelizmente, o novo governo continuou na mesma senda destruidora de Portugal, nada corrigiu e continuou a agravar a vida da grande maioria dos portugueses e a enriquecer ainda mais a minoria de ricos. A dívida pública, que se esperava que fosse sendo reduzida, continuou, inexplicavelmente, a subir

e em 2013 atingia 129 % do PIB.
No mesmo período, foram “privatizados” mais serviços públicos de importância nacional, vendidos a preço de saldo e alguns deles rendendo boas quantias a quem os comprou. Um dos mais chocantes foi o serviço de Correio, um serviço de responsabilidade e que até é um perigo estar em mãos privadas e estrangeiras. Para que o negócio fosse mais rendoso para o comprador, extinguiram-se, antes da venda, dezenas de estações de Correio que tinham grande movimento, obrigando as populações que serviam a deslocarem-se a longa distância. Para cúmulo, logo após a venda de um serviço que já dava lucro, o custo da correspondência foi aumentado em cerca de 30%!
O governo tem dito que está tudo melhor, que as exportações aumentam, que o desemprego baixa, que a economia cresce, etc. Mas parece que não percebe que os portugueses, a tal sacrificada classe média, só acreditam em melhoria no dia em que começarem a receber – e não em pinguinhas miseráveis, mas em quantitativos significativos – o muito que lhes subtraíram nestes últimos anos. Enquanto lhes anunciam mais cortes, continua a pobreza a aumentar, mantêm-se aqueles absurdos gastos acima referidos e, ao mesmo tempo, também aumenta o número de milionários. Assim, não esperem que qualquer pessoa normal acredite em melhorias.