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Tereza Halliday |
Na minha infância, corria a crença de que o diabo viria dançar na frente da casa que não acendesse fogueira em honra de São João. Assim, pessoas de poucas posses juntavam gravetos para uma fogueirinha mínima, que as redimisse da maldição. Amigas tornavam-se “comadres de fogueira” arrodeando-a três vezes e repetindo palavras mágicas. Acender bem a fogueira era uma arte. E visitá-la no dia seguinte – em estado de cinzas ainda quentes - era um ato de contrição. Entre os países onde o São João é celebradíssimo estão Portugal, Canadá, Estônia e Brasil, onde, no Nordeste, o 24 de junho tem status de feriado.
Uma lenda associa a fogueira a João Batista, asceta que jamais tomaria uma cachacinha na noite em sua honra: sua mãe Isabel, grávida, teria prometido à prima Maria, mãe de Jesus, que acenderia uma fogueira no topo da colina para avisar quando o bebê nascesse. A melhor forma de comunicação instantânea num mundo sem What´s App. E nasceu João, anunciador de Jesus, e que o batizou no rio Jordão. (Marcos 1, 1-9). Muito mais tarde, Luiz Gonzaga haveria de cantar: “A fogueira está queimando/ em homenagem a São João / e o forró já começou / vamos, gente, arrastar pé neste salão”. Muito melhor do que fogueira como pena de morte.