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| Tereza halliday | 
Está explícito: “Copa do Mundo da Fifa”. 
Mundo de patrocinadores que se acotovelam em nosso campo visual para ter seu 
nome, logotipo, slogan marcado na memória dos consumidores – nós, que compramos 
de tudo no festival de publicidade da copa da Fifa. É esperado que os donos da 
Copa atinjam alto índice de recall e vendas. Copa do Mundo é big 
business.
          A estratégia não educativa e não 
patriótica, mas de propaganda e marketing é unir os brasileiros numa onda de 
fraternidade e solidariedade que não conseguimos em nenhum outro momento da 
história nacional – dissidentes, intolerantes e “reclamões” que somos, por 
motivos legítimos e ilegítimos. Daí o lema “Somos todos um”. Parece até 
congresso de espiritualidade e medicina quântica.   É para fazer acreditar que 
todos somos loucos por futebol e que patriotismo significa apenas torcer pelo 
Brasil. Claro que vibramos com as histórias de vida, superação e salários 
espetaculares dos jogadores. E queremos uma desforra de todas as indignidades 
que nos fazem passar como cidadãos brasileiros na vida quotidiana: transporte 
indigno, saneamento indigno, educação pública indigna. Somente o anestésico de 
um gol nos alivia.
          Daí,  flashbacks de gols de 
todas as copas e o grito “gol” repetido à exaustão. “Somos todos um”, com 
protestos, sem protestos, com PT, sem PT, só importa uma coisa: a Copa da Fifa 
para nos dar a sensação de ser irmãos por alguns dias.   Sediada no Brasil em 
2014, a Copa do Mundo Fifa torna-se o nosso mundo. Impensável e insensato não 
torcer pelo Brasil. Eu torço, mas sem perder a consciência de que, enquanto a 
bola rola, nós somos enrolados. 
 
 
 
 

