Miguel Mota |
Durante algumas
décadas clamaram que a agricultura não tinha qualquer possibilidade de existir
em Portugal, por não ser competitiva, e o que ainda restava dela era para
acabar. Não sei se isso era fruto duma monumental ignorância generalizada ou se
era uma criminosa acção de lesa economia, em favor dos que ganhavam fortunas a
importar produtos agrícolas. Nessa base, os governos e algumas entidades tudo
fizeram no sentido de destruir a agricultura. O máximo dessa destruição ocorreu
durante o governo socialista de Sócrates que, como mais de uma vez lembrei e
convém não esquecer, devolveu a Bruxelas centos de milhões de euros destinados
à agricultura portuguesa. Os prejuízos para o país foram astronómicos, no PIB,
no desemprego e na balança comercial.
Com o actual governo
e a ministra Cristas, cessou essa ideia errada e passaram a ouvir-se, de todos
os lados, os maiores elogios sobre a importância da agricultura para a economia
nacional. Com algumas medidas correctas, a produção e a exportação de produtos
agrícolas aumentaram significativamente.
Durante décadas,
Portugal andou a destruir toda a investigação científica pública que não fosse
das universidades, algo que já causou ao país prejuízos também astronómicos, na
economia e na ciência, em variados sectores, entre eles a agricultura. (Como
Professor Catedrático,
jubilado, sinto-me insultado por tão prejudicial prova
de mediocridade e inveja). Infelizmente, com o actual governo, essa destruição
não cessou e continuou com grande intensidade. O que Portugal tem hoje, em
diferentes sectores, é residual, em relação ao que tinha há 40 anos.
De colaboração entre
um banco e dois jornais (ambos do
mesmo dono), vão realizar-se amanhã em Évora (escrevo em 13-5-2014; já deve ter
ocorrido quando este texto for publicado) umas Jornadas de “Empreendedorismo
Agrícola” “Cultivar o futuro”. É uma excelente iniciativa e o programa é
interessante, incluindo conferências por personalidades de organismos oficiais
e entidades privadas. Noto ali uma ausência que reputo grave e, dados os
antecedentes que descrevi, pode fazer parte da destruição em marcha. Não está
no programa nenhum orador da Estação Nacional de Melhoramento de Plantas (ENMP,
hoje com outro nome), de Elvas, um prestigiado organismo de investigação
agronómica do Ministério da Agricultura, que já deu à agricultura do Alentejo
fortunas enormes, com as variedades ali produzidas. Como uma das formas de destruir
algo é evitar a sua presença, e até que se fale dele, fico na dúvida, sem saber
se a ausência nas Jornadas não teve um tal objectivo. Mas
sei que, com a investigação do Ministério
da Agricultura destruída, a agricultura terá o seu desenvolvimento
drasticamente limitado.