Mário Russo |
Escrevo estas breves linhas com base nos resultados quase
definitivos das eleições ao Parlamento Europeu. Confirma-se a derrota do
PPD/CDS e do BE, mas a grande vitória é de Marinho e Pinto, que sem meios,
consegue eleger-se e provavelmente ao nº 2. O Partido por que se candidatou
conseguiu aumentar mil por cento o seu
valor eleitoral, que configura inequivocamente uma vitória pessoal do
ex-bastonário da Ordem dos Advogados. Mas isso não é apenas a maior vitória
destas eleições, porque de facto indicia o desagrado, desencanto e até desprezo do povo pela política e, sobretudo pelos políticos
que temos. Acontece um pouco pela Europa com a Direita radical a assomar-se
como força política, impensável há alguns anos atrás.
Em Portugal emerge outro grande derrotado, o BE, que nada me
surpreende, pois já tinha vaticinado a morte lenta deste partido, desde que
Francisco Louçã deixou o presente envenenado de uma liderança bicéfala. Só não
sei se não o fez de propósito. O PS também sai derrotado, porque as maldades
feitas pelo Governo repercutem-se no índice de rejeição dos Partidos do governo
que o PS não capitaliza devido à sua fraca e débil liderança.
O outro vencedor, que é uma derrota para os partidos
políticos, foi a abstenção histórica. Pena que não haja ilações deste
verdadeiro divórcio entre políticos e o eleitorado.
A Aliança Portugal, ou melhor, o Governo Português, é um dos
outros grandes derrotados. A arrogância e a desfaçatez com que veio a terreiro
tentar iludir o eleitorado, agitando o fantasma de Sócrates, não lembra ao
diabo. O Povo que foi às urnas deu a resposta a isso tudo, penalizando-o e
votando, sobretudo em alguém anti-sistema, Marinho e Pinto e não dando crédito
por aí além ao PS, que seria o tributário natural do descontentamento pela
governação.
O PS não pode ficar contente com este resultado, pois
indicia que a continuar como está a liderança, vai perder as legislativas,
bastando que a economia internacional confirme o crescimento que as agências
vaticinam. António José Seguro ainda não percebeu que a sua imagem não cola com
competência, liderança, credibilidade e por isso, deveria demitir-se da
liderança, abrindo caminho a quem possa incorporar um projeto vencedor.
Com efeito, só uma revolução na liderança PS pode alterar
este quadro que se está a pintar no horizonte próximo da política portuguesa.
Porém, todos os políticos deveriam debruçar-se sobre os
resultados e extrair consequências do seu próprio comportamento que o povo
reprovou inequivocamente.
Um sistema político caduco e sem qualquer crédito emergiu
destas eleições. Urge a sociedade civil avançar para defender a democracia e a
liberdade, sob pena dos populistas, tipo Marine Le Pen, ocuparem o palco e
determinar o rumo da política europeia na senda do radicalismo xenófobo e
racista.