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Tereza Halliday |
A bem intencionada onda do politicamente
correto ignora nuances de significados. “Vem cá, neguinha”, sempre foi uso
carinhoso. Já ouvi a expressão “meu preto” aplicada carinhosamente a um namorado
de pele alvíssima . Mas, usar o termo “negro” para alguém de pele escura virou
crime racial. Depende do contexto e da entonação. “Negro sem-vergonha” e
“galego sem-vergonha” são agressões verbais. E devem ser evitadas, pelo respeito
a todos. Mas, usar eufemismos exageradamente na ânsia de não ofender ninguém,
desagua em enrolação. Chamar empregada doméstica de “secretária” não aumenta
nem encobre o status da babá ou cozinheira, que dignamente ganha a vida com
estas ocupações. Lamentavelmente, há preconceito no próprio grupo social de
faxineiras e afins, que são vítimas de comentários de vizinhas mais jovens:
“Eu, hein, trabalhar na casa dos outros? Deus me livre”. Podem se esfalfar como
comerciárias, mas acham indigno ganhar a vida no serviço
doméstico.
Felizmente, um grupo vítima do excesso de
escrúpulos verbais recusou a designação “portador de deficiência auditiva”.
Querem ser chamados de “surdos” mesmo. Sem panos mornos nem ofensa. Também há um
contingente de pessoas mais velhas que recusa os eufemismos “melhor idade” e
“idoso” (este, sacramentado pela terminologia oficial). Primeiro, porque, os
últimos anos de uma longa vida, com as mudanças de vigor, dificilmente podem ser
chamadas de “melhor idade”. Segundo, porque os longevos de bem com a vida, mesmo
enfrentando limitações, sabem que são velhos e não se ofendem com isto. Mas
ainda há quem prefira eufemismos para adocicar o envelhecer. É prudente
perguntar “Como você prefere ser chamado?” O território semântico é um pisar em
ovos.