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Tereza Halliday |
Emplacamos
2014 com a completa integração de mais um membro da família, que chegou de mala
e cuia: o smartphone, telefone portátil/microcomputador que funciona como um PDA
– sigla de “personal digital assistant” – assistente pessoal digital. Ele faz
quase tudo e se apresenta sob diferentes modelos e marcas. Já no segundo
trimestre de 2013, superou em vendas os telefones móveis comuns. Smartphone se
traduz livremente como “telefone inteligente”, mas o adjetivo “smart” em inglês
também significa “ vivaz, esperto”. Não beija, mas manda beijos; não transa,
mas seduz; não ensina, mas fornece informações úteis e inúteis. Tornou-se
assessor tão valioso que faz muitos de nós perdermos a noção de seu devido lugar
em nosso espaço de vida.
Ninguém nega sua
utilidade, mas são muito “espaçosos”, usurpam a atenção plena a outras coisas
relevantes - a observação do entorno, a interação face a face, o uso pleno dos
cinco sentidos. Fui à praia assistir ao nascimento da lua cheia. Momento rápido
e mágico, show gratuito, disponível uma vez por mês. Encontrei muita gente -
todos enquadrando e captando a imagem do espetáculo em suas telinhas. Ninguém
olhava para a lua de verdade. O importante era apenas mandar a foto para as
redes sociais e esperar as curtidas dos amigos. O momento da enorme lua a surgir
do mar, afogueada, lentamente se afastando da linha do horizonte e dominando o
céu, foi perdido.
Certo restaurante
afixou este aviso: “Não temos sistema de wi-fi. Conversem uns com os outros”.
Grupo de jovens dependentes de telinhas reuniu-se para jantar. Um deles, mais
sagaz e sensível, propôs: quem tirar primeiro o smartphone do bolso ou bolsa,
paga a conta. Pela bem-humorada chantagem financeira, conseguiu um jantar
descontraído, com as pessoas conversando face a face, ao vivo, redescobrindo o
prazer de estar juntos, sem interferências eletrônicas. Cada um era mais
importante para o outro do que os i-phones, i-pads e i-pods atrelados a seus
corpos.
Saber
identificar o que é irrelevante/relevante para o momento é o desafio destes
tempos atabalhoados. A abordagem zen ensina que é saudável, prazeroso e
produtivo dar atenção completa a cada minuto e tarefa. Não lavar os pratos para
acabar logo e ir fazer outra coisa. Mas lavar os pratos para lavar os pratos.
Não ajudar o filho nas tarefas escolares para acabar logo e ir ver televisão,
mas para estar com o filho naqueles minutos de ajuda. E que momento rico, quando
se está integralmente dentro dele! Não participar daquela reunião chata para
atender ao chefe, mas para participar da reunião. Quanta experiência e “insight”
pode-se adquirir com as besteiras de uns e a sensatez de outros participantes!
Não jogar fora o momento de namorar ao vivo, atrelando-o a uma telinha. Estar
plenamente presente para cada pessoa e em cada lugar. Enfim, doar-se por
inteiro a cada instante, sabendo quando é a vez do mundo virtual e quando é hora
de viver no mundo real.