Em
Espanha o PS espanhol decidiu abrir um processo estimulante e arriscado
para decidir quem deveria ser o nome indicado pelo partido para
primeiro-ministro.
O PSOE (Partido Socialista Espanhol) tem 200.000 militantes e 20.000
no PSC (Partido Socialista da Catalunha). Como se processa essa votação?
Qualquer espanhol com mais de 16 anos que se inscreva, pague 2€, e
assine uma declaração de princípios e valores do partido socialista e
aceite a recolha e uso dos seus dados pessoais pode votar. Pode ser
candidato quem recolha no mínimo de 5% de assinaturas e um máximo de 10%
(11.000 a 22.000).
Olhando para o panorama geral da relação entre cidadãos,
política e políticos é um procedimento de aproximação dos cidadãos
louvável. Todavia este processo já foi efectuado no PS francês e os
resultados não me parecem os melhores. Foi eleito François Hollande, um
homem do partido em detrimento de outras candidaturas mais eloquentes e
mais capazes.
Seria importante a possibilidade de dar acesso a candidatos não
filiados nos partidos, isto é, abre-se a possibilidade de votar não
militantes, mas não se facilita uma candidatura independente. Por outro
lado, a priori, um militante ter 11.000 assinaturas não é coisa de
somenos. Por outro lado haver uma inscrição prévia pode retrair a
participação. Vai haver um antes e um depois, mas pouco ou nada vai
mudar.
Este processo é um pouco cosmético, dá-se com uma mão (permitindo
simpatizantes ou qualquer cidadão votar) mas tira-se com a outra
(dificultando ao máximo um candidatura independente do partido e diria
até do próprio partido).
É um passo mas muito tímido, porventura sedutor, mas induz em erro os
cidadãos. Os partidos têm medo de perder o controlo sobre este processo
que é a eleição do candidato a primeiro-ministro. Pode-se fazer uma
leitura contrária à pretendida. Há uma abertura mas o PSOE continua a
olhar para o seu umbigo. No fundo as primárias do PS espanhol
convertem-se num mero casting e uma passagem de personagens e sorrisos
cativadores.
Por outro lado, nas eleições locais é vedado o acesso de cidadãos fora dos partidos, somente para militantes.
Os cidadãos aprenderam a ser cépticos ou abertamente contra estilos
de gestão autoritários e controladores. Querem políticos que os escutem,
não déspotas.
É um bom estímulo ao debate político sobre o futuro. Em Portugal
fazem-se primárias mas só podem votar militantes. Os ventos de mudança
ainda não chegaram cá…
Dou o meu benefício de dúvida mas não passa disso. É o início de uma caminhada que peca por tardia.
JJ
*artigo de opinião publicado no PT Jornal