Tereza Halliday |
Recebi
vários telefonemas de amigos e conhecidos a quem foi encaminhada falsa mensagem
de e-mail, pretensamente com minha assinatura formal: nome e sobrenome. Pedia um
empréstimo de “x” dólares para supostamente tirar-me de um sufoco na Ucrânia,
para onde eu teria ido “de repente” e lá, teria sido roubada de celular,
documentos, dinheiro. Foram tantas as incongruências da tentativa de fraude que
a maioria dos destinatários da mensagem desconfiou. Mas alguns ligaram,
preocupados, checando se eu estava em casa, no Recife, e se estava bem. Fiquei
sensibilizada e espero que nenhum de meus contatos de e-mail tenha sido
prejudicado por essa mensagem maligna. Quem respondesse
diretamente, poderia ter seu computador infectado, foi o que ouvi de
especialistas.
Algumas “estranhezas” que jamais
caracterizariam o e-mail farsante como de minha autoria foram logo detectadas
por quem me conhece: eu não escreveria em inglês a amigos brasileiros, nem mesmo
aos fluentes em inglês; não usaria a Internet para pedir dinheiro, nem mesmo em
caso de vida ou de morte; impensável, na minha família, viajar sem planejamento
(a falsa estada na Ucrânia teria sido de supetão); há anos que não
viajo para lugar algum, nem mesmo para Caruaru. Se e quando, finalmente,
viajasse, a prioridade não seria a Ucrânia. Tampouco Istambul, só porque está na
moda. A autora da melhor dedução de que a mensagem era falsa, foi
a jornalista Ângela Lacerda: achou inverossímil que um e-mail de
minha autoria dirigido a amigos, não tivesse como fecho um beijo, um cheiro ou
abraço.
A gerência do yahoo mail
me pediu para trocar de senha - pedido que se repete
periodicamente - sempre alegando que “uma atividade suspeita foi
detectada em minha conta”. Vôte! Suspeito vai se tornando tudo o que vem da
Internet, principalmente comentários negativos de uns contra outros nas redes
sociais. Merecem ser suspeitos de engano, calúnia ou
infâmia, até prova em contrário. Também duvidosas são muitas informações com
cara de científicas, mas sem as devidas citações de fonte. O “Dr Google”, nem
sempre orienta como desejaríamos, com suas assertivas e generalizações. Somos
todos otários de Internet, num ou noutro momento, neste ou naquele
assunto.
No caso da mentira
envolvendo meu nome, o pilantra criador do e-mail fraudulento não sabe que
artesão de textos é capaz de tirar um bom mote até de uma péssima farsa e usá-lo
para “informar, orientar, entreter” – objetivos do jornalismo que aprendi com o
prof. Luiz Beltrão em priscas eras. Outra coisa: se você encontrar
uma boa excursão para a Ucrânia, talvez eu possa até vir a me interessar.
Afinal, é o lugar de nascimento da grande escritora de Língua Portuguesa,
Clarice Lispector. Motivo bastante para deixar de ser farsa de
piratas de e-mail e tornar-se viagem verdadeira, honesta, encantadora. Quem
sabe, um dia?
Vale repetir: faça bom
uso da Internet, mas muito cuidado com ela!
(Diário de Pernambuco, 4/11/2013)