Luís Nobre Guedes (LNG)foi o convidado do Clube dos Pensadores que Joaquim Jorge trouxe para encerrar com chave de ouro 2013, um ano já de si excecional para o CdP, tendo em conta as figuras gradas que se apresentaram, como Belmiro de Azevedo, Miguel Sousa Tavares, Paula Teixeira da Cruz, entre outros.
Luís Nobre Guedes foi apresentado por JJ, logo no início do debate. Seguiu-se uma verdadeira aula, que me surpreendeu a todos os títulos. Nobre Guedes faz jus ao nome. É um senhor com estatura ética e política. Simpático, afável , culto e um bom contador de histórias. Começou por afirmar que está afastado da política porque na sua atividade de sempre, a advocacia, não é compatível com a política, porque ou se está na política ou nos interesses.
Fez de seguida um relato do Portugal nos últimos 40 anos, de forma necessariamente sintética, para concluir que há outros caminhos para Portugal alternativos aos que o situacionismo teima em trilhar, dos cortes de salários, de pensões miseráveis, de impostos desmesurados.
Portugal que perdeu o império, integrou um milhão de “retornados” das ex-colónias, e se integrou num clube de ricos em 1985, transformou-se num novo rico, perdendo valores como a ética, a dignidade e seriedade. Estes valores tradicionais e fundacionais da personalidade foram substituídos pelo fulgor de uma economia de casino, dos subprime, swaps, ditaduras dos mercados, sempre ciosos do lucro fácil, da economia da ganância. Uma sociedade sem afetos e quando isso acontece temos um país dividido entre pobres e ricos, norte e sul, velhos e novos, funcionários públicos e empregados privados.
Nobre Guedes vai ao congresso do CDS para dizer aos militantes que é tempo de mudança, porque o mundo mudou. É preciso conviver com o que é diferente. Vai afrontar o situacionismo que não quer mudar o que está, ao invés de acompanhar a mudança dos tempos.
Os agentes do situacionismo não são apenas os dois partidos do governo, mas inclui o PS. Não querem mudar-se do “banquete” em que se encontram repousados, como fizeram países nórdicos que tinham há 20 anos um situação semelhante à de Portugal de hoje. É sinal de inteligência ver o que outros fizeram e segui-los, que é diferente daquilo que Portugal está a fazer com os resultados que se conhecem.
Luís Nobre Guedes enumerou um conjunto de verdadeiras reformas que o situacionismo não quer fazer. Desde logo a administração territorial, onde centenas de cidades têm menos de 10 mil habitantes e por isso deveria haver fusões. Mais de 200 instituições que são o rosto do despesismo deveriam simplesmente desaparecer. Mas tem mais áreas a merecer mudanças: justiça, licenciamento industrial e ambiental (uma vergonha pela demora) e o modelo de educação. Ouro campo a alterar é o da lei eleitoral. Não há coragem. Estas sim, as verdadeiras reformas.
Mas o poder está estabelecido para albergar os poderosos e garantir os interesses. Poder que é muito forte com os fracos e muito fraco com os fortes, que sempre ganhou: PPP, rendas excessivas, BPN, BPP, SWAPS, etc. Falta uma cultura do serviço público sério, como acontecia no passado, pelo exemplo. Como é possível um assessor do governo ir para o trabalho com carro do Estado, motorista e, ainda por cima, o jovem assessor talvez cansado, tem a sua pasta levada pelo motorista. Algo impensável em qualquer país nórdico.
Falta de estratégia para o Mar e para a CPLP. O poder político foi capturado pelo poder económico. A política é de plasticina numa encenação permanente. Falta autenticidade, que será o paradigma do século XXI na nova política, fruto das mudanças, das redes sociais, da informação. Os políticos portugueses, e da Europa, ainda não perceberam isso. Faltam líderes para a mudança, tanto em Portugal, como na Europa.
É hora da participação. A mudança faz-se por dentro dos próprios partidos, mesmo que sejam uma luta isolada no início. Os que deixaram de participar têm de voltar e os que ainda não participam têm de começar.
Rematou com o exemplo do CdP, que é uma “Aula Magna”, independentemente do número de participantes.
De facto Luís Nobre Guedes convenceu-me pelo brilhantismo, clareza e paixão nas ideias que transmitiu na sua Aula Magna. São Homens como LNG que a política portuguesa precisa. Parabéns Joaquim Jorge. Foi dos debates que mais me surpreendeu e me identifiquei com o conteúdo, que tantas vezes aqui tenho exprimido neste espaço de liberdade, o Blog do CdP.
Mário Russo