Miguel Mota |
Adaptados aos tempos actuais,
esses conceitos podem exprimir-se pelas acções que as pessoas ou os partidos defendem,
se não estão no poder, ou que praticam, se estão no poder. Dum escrito antigo
transcrevo:
“...podemos dizer que são acções
de esquerda as nacionalizações, a redução do leque salarial (na extrema
esquerda os salários seriam todos iguais), saúde, educação e protecção na
velhice como encargos do estado, predomínio do trabalho sobre o capital (na
extrema esquerda não pode haver capital privado), impostos altamente
progressivos, em que quem tem mais paga proporcionalmente mais e quem tem muito
mais paga proporcionalmente muito mais, etc. Por oposição, são de direita as privatizações, um grande leque salarial (desde
salários de miséria a salários muito altos), saúde, educação e protecção na
velhice como negócios privados, predomínio do capital sobre o trabalho,
impostos pouco progressivos ou, até, todos a pagarem a mesma percentagem, etc.”
Assim, é na base das acções que praticaram quando exerciam poder que vamos avaliar os partidos e as pessoas, principalmente os Primeiros Ministros. Nos estados actuais há sempre acções de esquerda e acções de direita, sendo a proporção de cada uma que determina a sua posição, no espectro político. Quem praticou mais acções de direita não pode ser chamado “de esquerda”.
Do artigo atrás citado transcrevo:
“O Partido Socialista “era” um partido de esquerda após o 25 de Abril,
quando andava de braço dado com o Partido Comunista a fazer nacionalizações e
actos do género e Mário Soares, na rua, de punho erguido, berrava “Partido
Socialista, um partido marxista!”
Mas algum tempo depois o discurso já não era o mesmo e não tardou a
abandonar o socialismo, antes mesmo de Mário Soares declarar expressamente que
tinha “metido o socialismo na gaveta”. (Para ser coerente, a partir dessa data
o partido deveria ter mudado de nome. Mas todos sabemos que os nomes dos
partidos pouco ou nada significam).”
Essa “ausência de esquerda” (virar
à direita) continuou com Guterres, com várias acções de direita e, de esquerda,
apenas o Rendimento Mínimo Garantido, de muito duvidosos resultados. Com
Sócrates, alegadamente “socialista”, foi um regabofe de extinção de serviços
públicos, para obrigar a dar negócio aos privados, reduziu os ordenados de
quase toda a classe média e sobrecarregou-a com impostos, alargou o leque
salarial, fez dezenas de PPP (parcerias público-privadas) para dar bons
negócios aos privados (beneficiários e não concessionários, como lhes chamam),
com elevados lucros garantidos, à nossa custa. Colocou as finanças públicas em estado
tão lastimável que teve de submeter o país â humilhação da troika e duma
astronómica dívida, porque, segundo declarou, se o não fizesse não haveria
dinheiro para pagar ordenados e pensões. Não disse que não haveria dinheiro
para pagar às tais PPP , nem para dar aos partidos, nem para dar às fundações
ditas “privadas”, nem para pagar “pareceres” caríssimos, nem para as milhentas
e absurdas mordomias. Governou, portanto, como extrema direita.
O “Expresso” tem, nos seus dois últimos números, apresentado crónicas sobre as próximas eleições presidenciais e uma grande lista de potenciais candidatos. Essa lista está dividida em duas, uma com os candidatos que considera “de esquerda” e a outra dos candidatos “de direita”. Entre os “de esquerda” está Sócrates...