13/07/2013

A Insustentável Nebulosidade de Cavaco

Mário Russo
Presidente da Republica, diante do atual quadro governativo e do “carnaval” que se seguiu após a demissão de Vitor Gaspar, seguida da de Paulo Portas, tinha tudo para ser coerente, transparente e objetivo, em prol de Portugal. Só tinha duas formas de o fazer: (i) apoiar a solução que o PM lhe levou (2ª versão) com Portas a Vice PM; ou (ii) demitir o governo.

Mas Cavaco preferiu o tabu. Inventou um compromisso de salvação nacional, como se as palavras fortes e sonantes por si só resolvessem a situação. Não há possibilidade de entendimento como quer o PR, sem ser um governo de sua iniciativa (teria de dissolver a AR), e por isso vai o país estar mais suspenso do que já estava.
A imprensa portuguesa está contaminada pelos “comentaderos” do PSD, que se tem apressado a trucidar Portas. Apenas o fazem porque a jogada de Portas foi genial. Ele foi sempre ignorado por PPC em todas as tomadas de decisão ao longo destes 2 anos. O país a caminhar para as profundezas da desgraça e da miséria e as políticas de PPC e Gaspar continuavam imparáveis com a caravana para o abismo. Gaspar reconhece o erro e demite-se, uma boa notícia para os portugueses, mas PPC eleva a Senhora SWAP a Ministra das Finanças, sem dar cavaco a Portas. Queriam que ele fosse a Belém queixar-se a Cavaco? Só por brincadeira.

Portas arriscou a última bala que tinha: a vida ou a morte. A solução como vice PM e com a área económica na sua posse, vislumbrava no horizonte o seguinte quadro:
A Troika tem Portas como interlocutor, que logo lhes avisa (se fosse preciso) que ele não é Gaspar, pois foi por discordar da sua política que se tinha demitido. Por outro lado, a Europa vai mudar de agulha porque a austeridade não resolve. O FMI, por Cristine Lagarge, já disse alto e bom som, que é um erro a austeridade ao máximo. Esta mudança de paradigma potencia o crescimento da economia e os parceiros portugueses com maior potencial de compra importam mais de Portugal ajudando este a sair dos miseráveis números do desemprego em que se encontra. Os louros cairiam em Portas, que forçou a mudança.

Mário Soares foi o primeiro “animal” político a perceber isto e atacou Portas, porque a solução matava as aspirações do PS vir a governar já. Mas os comentaderos PSD também viram que o partido estava refém da jogada de mestre de Portas e envenenaram o comentário político e Cavaco. Este faz as vontades aos seus assessores e amigos do partido e transforma o país num pântano, como vingança contra Portas.
Não sei o que Cavaco vai fazer quando perceber que não haverá consenso e que o que ele forçou vai cair em saco roto, é uma questão de tempo. Mas que não está nada clarificado neste governo, não está, por culpa de Cavaco, um verdadeiro elefante numa loja de porcelana, amante de tabus e outras constelações nebulosas. E este é o drama de Portugal: não tem um governo com competência; não tem oposição política competente, nem tem PR competente. Um país atirado à sua sorte.