Mário Russo |
Mas Cavaco preferiu o tabu.
Inventou um compromisso de salvação nacional, como se as palavras fortes e
sonantes por si só resolvessem a situação. Não há possibilidade de entendimento
como quer o PR, sem ser um governo de sua iniciativa (teria de dissolver a AR),
e por isso vai o país estar mais suspenso do que já estava.
A imprensa portuguesa está
contaminada pelos “comentaderos” do PSD, que se tem apressado a trucidar
Portas. Apenas o fazem porque a jogada de Portas foi genial. Ele foi sempre
ignorado por PPC em todas as tomadas de decisão ao longo destes 2 anos. O país
a caminhar para as profundezas da desgraça e da miséria e as políticas de PPC e
Gaspar continuavam imparáveis com a caravana para o abismo. Gaspar reconhece o
erro e demite-se, uma boa notícia para os portugueses, mas PPC eleva a Senhora
SWAP a Ministra das Finanças, sem dar cavaco a Portas. Queriam que ele fosse a
Belém queixar-se a Cavaco? Só por brincadeira.
Portas arriscou a última bala que
tinha: a vida ou a morte. A solução como vice PM e com a área económica na sua
posse, vislumbrava no horizonte o seguinte quadro:
A Troika tem Portas como interlocutor,
que logo lhes avisa (se fosse preciso) que ele não é Gaspar, pois foi por
discordar da sua política que se tinha demitido. Por outro lado, a Europa vai mudar
de agulha porque a austeridade não resolve. O FMI, por Cristine Lagarge, já
disse alto e bom som, que é um erro a austeridade ao máximo. Esta mudança de
paradigma potencia o crescimento da economia e os parceiros portugueses com
maior potencial de compra importam mais de Portugal ajudando este a sair dos
miseráveis números do desemprego em que se encontra. Os louros cairiam em
Portas, que forçou a mudança.
Mário Soares foi o primeiro
“animal” político a perceber isto e atacou Portas, porque a solução matava as
aspirações do PS vir a governar já. Mas os comentaderos PSD também viram que o
partido estava refém da jogada de mestre de Portas e envenenaram o comentário
político e Cavaco. Este faz as vontades aos seus assessores e amigos do partido
e transforma o país num pântano, como vingança contra Portas.
Não sei o que Cavaco vai fazer
quando perceber que não haverá consenso e que o que ele forçou vai cair em saco
roto, é uma questão de tempo. Mas que não está nada clarificado neste governo,
não está, por culpa de Cavaco, um verdadeiro elefante numa loja de porcelana,
amante de tabus e outras constelações nebulosas. E este é o drama de Portugal:
não tem um governo com competência; não tem oposição política competente, nem
tem PR competente. Um país atirado à sua sorte.