Teresa Halliday |
Amigos, conhecidos e parentes têm a mesma história para contar: lustra-móveis, flanelas de limpeza e mesmo o aspirador de pó são deixados em lugares insólitos e variados pela casa a fora, ao fim do expediente das diaristas/faxineiras. Arranjei uma fita colorida com a qual envolvo num bonito laço, o lustra-móveis esquecido na sala. Disse à minha auxiliar que ele, assim, torna-se peça de decoração. Ela riu, meio sem jeito, mas repete regularmente o esquecimento. Trabalhando com a cabeça cheia de problemas pessoais e familiares, que são muitos, consolando-se com músicas românticas ou evangélicas nos fones de ouvido, diaristas e mensalistas dão exemplo da mão de obra avoada que encontramos a cada prestação de serviço. É o pintor avoado que esquece de pedir jornal velho para forrar o chão, antes de manusear o pincel. É o pedreiro avoado que usa uma tábua envernizada, encontrada na casa e, sem perguntar se pode usá-la, faz cimento em cima dela. (A tábua era para um trabalho de artesanato). É o porteiro avoado que, ao ajudar a fechar um portão de garagem enguiçado, celular numa mão, controle remoto na outra, fecha o portão exatamente em cima do carro que estava descendo a rampa.
Mão de obra avoada tem jeito? Talvez a Copa do Mundo no Brasil, em 2014, vá resolver isto também. (Diário de Pernambuco, 17/6/2013)
(Accioly Neto)
Avexar - forma nordestina de vexar, significando apressar-se, afligir-se